Mato Grosso
Cheguei à Cuiabá eram três horas
da tarde. Quando saí do Aeroporto o ar da rua bateu em minhas faces como um
bafo de chaleira quente. Cheguei a recuar tão forte foi o impacto. Creia. O
calor por aquelas bandas nos meses de verão é um verdadeiro caldeirão.
Meu destino era a Serra do
Roncador na Aldeia dos Índios Xavantes. Um dos locais mais cheio de histórias
que conheci. Disseram-me que o nome vem do barulho que o vento faz ao bater nas
altas rochas, parecido com o ronco de um homem dormindo. Não achei muito
parecido. Mais parece um tigre ronronando. Talvez essa impressão dependa das
variações climáticas. Cada um ouve à sua maneira, penso eu.
Na estrada que leva à aldeia, tem
um pequeno restaurante onde paramos para almoçar. Quando entramos, uma senhora
já com idade avançada chegou para pedir dinheiro. Convidei-a para sentar à mesa
conosco. Sentou-se e começou a falar sem parar. Depois pareceu cansar-se, e
caminhou em direção ao por do sol. Da algaravia toda que durou todo o almoço e
mais um pouco, eu tirei essa história.
Essa senhora conheceu um
extraterrestre, que veio pelo portal sagrado que existe em um lago no meio da
floresta, ao lado de um imenso paredão de pedra. Esse lago tem águas
cristalinas e reflete um imenso sol, o qual em certas horas de um dia
específico, abre com seus raios esse portal por onde os tais extraterrestres
visitariam a Terra. Ela era muito jovem e bonita quando o conheceu. Disse ela,
que ele era também um homem lindo, cujos olhos azuis derramavam luz por onde
passava. Onde ele estivesse não havia escuridão. Ela se apaixonou, e por onde
ele andasse ela ia atrás. Após alguns meses peregrinando pelos passos do lindo
homem, ele se dignou a fazer amor com ela à beira do lago mágico. Após a
celebração desse ato, o ser sumiu pelas águas brilhantes do lago, e só restaram
os raios do imenso sol refletindo o dourado nos paredões da montanha. Por muito
tempo ela ficou olhando as águas transparentes, esperando que ele voltasse.
Alguns dias depois, ela se mirou no espelho do lago, e ficou desesperada, seu
belo semblante havia se transformado no que ela era agora, uma velha.
Seguimos viagem, e pelo sim pelo
não, evitamos passar muito perto dos lagos que porventura encontrássemos na
nossa viagem até a Serra do Roncador. Porque embora eu goste muito de homens
bonitos, quero ficar com minha aparência como está.
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