segunda-feira, 29 de julho de 2013

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Viagens - Capítulo XIII

Bahia

Estive na Bahia várias vezes e visitei muitas cidades por lá. Conversei com gente da Capital e do interior. Todos são uma alegria só. Baiano tem o coração no olhar e a alma nas mãos. São poetas, conversadores e amigos. Alguns despintam, mas se você olhar bem vai ver que não são baianos nativos. Os de lá são hospitaleiros, alegres e comunicativos.
Conheci o Genivaldo que mora numa pequena e escondida cidade do sertão baiano. E escreve bem como ele só. Tem uma caligrafia de fazer inveja às fontes do Word. Seu português é para Aurélio nenhum colocar defeito. Tem ligeireza no pensar quando alguém lhe pede para escrever uma carta, seja ela de amor ou de negócios. Por isso todos os analfabetos da redondeza vêm até ele, ora para pedir uma carta para seu amor, ora para escrever ao compadre que mora em São Paulo. Mas quando o Genivaldo fala! É um despropósito. Por pura curiosidade fui conversar com ele um dia que passava por seu vilarejo:
- Olá Seu Genivaldo!
- Bas tard dona!
- Seu Genivaldo! O senhor escreve muitas cartas?
- Ó xent moça!  Si escrevu! Tanta qui si a sinhóra juntá as letra delas tudo, dá pra dá umas deiz mir vorta na terra. Ora si dá!
- Gostaria que o senhor me fizesse uma trova, dessas que rola aí pelo nordeste. Disseram-me que o senhor é um grande poeta. Pode ser?
- Podi sim sóra!
E em menos de um minuto fez uma trova, com uma caligrafia caprichada, e sem nenhum erro.
A trova foi assim:
“Clarinha mora na roça
Nenhum homem ela namora.
Não se deve fazer troça
Senão ela vai embora.”

Pedi então para ele ler a trova. Saiu assim:
“Clarim mór na róça
Ninhum óme el namór,
Num si dev fazê tróça
Sinão el vai simbór.”

Fiquei olhando para aquela figura pitoresca e perguntei se podia ficar com a trova. Ele disse que sim, que era minha e podia fazer dela o que quisesse. Dei a ele o valor que pediu pela trova.

Nessa nossa Bahia de Todos os Santos e de todos os poetas, a beleza da simplicidade nos dá lições de cordialidade e carinho em todo lugar, e que nos faz voltar lá tantas vezes.

1 Comentário

Poções de Arte

E é aí que mora o perigo de "julgar um livro pela capa".
Adorei sua narrativa.

Abraços e ótima semana.