Josemiro Otávio de Souza (ou simplesmente Otávio, como
preferiu ser chamado quando adotou Jaraguá do Sul para viver, há 15 anos)
sempre foi apontado como exemplo de empreendedor bem sucedido. Mecânico de
formação, fazia questão de dizer que chegou à cidade com uma mão na frente e a
outra atrás, sem eira nem beira, sem parentes importantes, e com apenas alguns
trocados no bolso...
Nos primeiros cinco anos, trabalhou duro e economizou ao máximo.
Depois abriu a própria oficina, que gradativamente transformou numa grande
revenda autorizada de automóveis, com filiais nos municípios vizinhos.
"Otávio se fez sozinho, por méritos próprios!",
afirmam os empresários locais. Admirado e invejado por uns, era odiado por
outros... Na empresa, sempre foi temido por seus funcionários, que eram
controlados com mão-de-ferro. Afinal, para ele, o lucro sempre esteve em
primeiro lugar! Jurou para si mesmo que chegaria "no topo" dos
emergentes, custasse o que custasse! Para ele, os fins sempre justificavam os
meios...
Sua personalidade controvertida atraía muitos bajuladores,
falsos amigos que ele deliberadamente manteve por vaidade e pela sensação
inebriante de poder. Com isso, os amigos verdadeiros passaram a se afastar, um
a um, aumentando cada vez mais a sua solidão.
Sim! Já se iam longe os dias de pobreza, do pão com
mortadela e do arroz com sardinha... Mas, por mais que Otávio se esforçasse em
esquecer suas origens e tentasse se convencer de que fez a escolha certa, a
sensação de vazio nunca o abandonou. Nessas ocasiões, relembrava da tarde
chuvosa, quando chegou na cidade de mochila nas costas e encontrou um idoso que
o intrigou. Nunca esqueceu suas palavras: "Já vi amigos morrerem de
enfarte, derrame e todo tipo de doença porque só pensavam em trabalhar,
acumular patrimônio... Não cometa esse erro!", tinha dito o homem, antes
de sumir, misteriosamente.
Ontem Otávio saiu mais cedo da loja, para surpresa de todos.
Um cansaço inexplicável o acometeu. Ao chegar em casa, sentiu uma forte dor no
peito. Uma ambulância foi imediatamente acionada pela governanta, mas o
empresário não resistiu e morreu a caminho do hospital... Pouco antes de
morrer, Otávio viu novamente a imagem do homem de cabelos grisalhos e voz de sábio:
"Eu bem que avisei a você! Há coisas que o dinheiro não pode
comprar!..."
A vida é feita de escolhas e, para cada cada escolha, uma
renúncia...
Crônica que integra a
obra solo "Crônicas de Maria e outras tantas - Um olhar sobre Jaraguá do
Sul", lançada em julho de 2009 pela Design Editora.
Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e radicada desde 1996 em Jaraguá do Sul (SC), Brasil.
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