quarta-feira, 9 de outubro de 2013

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DEPOSTO SOBRE O ABISMO - 19



Caro Ricardo-Pablo, my dear.

Pode dizer aos organizadores do evento que eu aceito o trabalho. Vai ser um projeto longo, por isso preciso de mais prazo. Por favor, peça a eles. A Isabel Dias foi minha amiga na faculdade de inglês, uma das poucas amizades que mantive daquele tempo. Ela é bastante profissional e compreensiva. Como é ela a idealizadora da coleção, acho que o aumento de prazo rola. Tenta pra mim, please. Uns dois ou três meses a mais seriam o ideal.
Ah, confirma pra mim o seguinte, if you can. O tema principal é o exílio, certo? E eu tenho que falar de Paraty, porque é pra ser lançado na Feira Literária, am I sure? Já dei um jeito de encaixar isso na história. São os únicos detalhes, né? O resto é livre, right?
Não me iludo achando que vai ser fácil nem te iludo dizendo isso. Vai ser o cão chupando capim-limão. Mas acho que será também recompensante. Aliás, a empolgação foi tão grande que eu ia te escrever esse e-mail anteontem, quando você me mandou a proposta lá no Face (aliás, gostou da inserção de Jaime Lage na vida digital? Só não espalhe que sou eu. Não quero contatos! rs), mas gostei tanto dela que comecei a escrever imediatamente. A história começou a brotar feito mágica, man. Eles vieram me assombrar esses dias. Seguraram na minha mão e escreveram comigo uns dezoito capítulos. E pode ficar contentíssimo, espanholito, que o resultado tá ficando porreta, rapaz! =)
Vou dar uma pausa pra comprar cigarros e um vinhozinho. Volto logo.
Voltei.
Conte-me tudo, não me esconda nada, Pablito. Como andam as coisas na editora? E a perspectiva de greve? Você conseguiu resolver tudo com os diretores? Foi preciso dar o aumento pra gráfica ou deu pra chegar a um acordo? Deixe-me a par, okay? Era tudo tão mais fácil quando eu só vendia livros na livraria ou revisava o livro dos outros! Presidência my ass (não conte a ninguém, okay? É ótemo trabalhar em casa!).
Faz um favorzão? Aquele dinheiro do Prêmio Dulce Veiga ainda não bateu na minha conta. Era pra ter entrado há exatos oito dias. Dá uma telefonada pra comissão organizadora que alguma coisa aconteceu pra que eles ainda não tenham me pagado. Conheço o Júlio Borges pessoalmente desde que ainda trabalhávamos aí na livraria. Ele é mulherengo, alcoólatra e cocainômano, mas caloteiro ele não é. (Se um dia for publicar um volume com as minhas correspondências, por favor não esqueça de colocar só as iniciais! rs Não quero nenhum ódio póstumo me perturbando lá no inferno – onde eu certamente vou parar!)
Te convido pra jantar no sábado, tomar uma garrafa inteira de vinho no gargalo comigo. Tenho andado numa solidão maior que a de sempre, que aliás já é bem grande. Vem me fazer companhia? Além do mais, preciso sair dessa casa, descansar um pouco dessa história. Ainda tenho muito a contar. Conheço um barzinho bem bom aqui perto, com juke box de rock e tudo! Confirma logo que eu faço reservas.

Be fine, companheiro.
Lots of hugs to you.
Irene.

Em tempo: viraste meu personagem. Te fiz agente literário. E argentino.

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