BIOGRAFIA
Jandira Zanchi é poeta, ficcionista e educadora. Curitibana, é licenciada em matemática pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e tem cursos de pós-graduação em astronomia e educação. Lecionou em faculdades, colégios e cursos. No final dos anos 80 trabalhou como cooperante na Universidade Agostinho Neto – Faculdade de Ciências em Luanda.
Publicou os livros de poesia Gume de Gueixa (Patuá-2013), Balão de Ensaio (Protexto-2007) e o livro virtual A Janela dos Ventos (Emooby-2012). Participou de antologias e publicou poemas em sites e blogs do Brasil e de Portugal. É colaboradora e colunista da revista virtual Letras et cetera. Atualiza seus poemas em :
ENTREVISTA
SELMO VASCONCELLOS – Quais as suas outras atividades, além de escrever ?
JANDIRA ZANCHI - Sou professora aposentada. Trabalhei por quase 30 anos com ensino de matemática e física em vários níveis de ensino, médio, superior, preparatório para vestibular e concursos. Meu primeiro sonho foi a astronomia, no começo dos anos 80 estive na USP fazendo mestrado em Mecânica Celeste. Não concluí e passei um bom tempo com uma certa antipatia pela matemática, afinal, os cursos eram bem pesados e eu sempre fui dividida entre exatas e humanas. Me encontrei, porém, quando comecei a lecionar. Gostei muito de trabalhar em cursos noturnos na área de economia, em ensino médio… ainda mantenho alguns blogs dessa época.
Atualmente, além da poesia e da literatura, faço yoga tibetana, hidro ginástica enfim, atividades sem fim lucrativo. Mas, penso em voltar a dar algumas aulas.
SELMO VASCONCELLOS – Como surgiu seu interesse literário ?
JANDIRA ZANCHI - Bem, a astronomia foi uma curtição, mas não a única. Leio desde 8 anos, meu pai me incentivava muito, me dava livros do Monteiro Lobato, fazia coleções de literatura. Quase todos meus interesses principiaram em minhas conversas com ele. Aos 12 anos já lia Dostoievski e não parei mais. Na juventude li muito livros de sociologia e política. Agora, poesia, nunca. Não gostava.
Aos 37 anos, em julho de 1990, escrevi meu primeiro poema. A partir daí a poesia tem sido não uma atividade, antes, uma extensão de minha individualidade. Passei a gostar muito de ler poesia e, fiquei estupefata em verificar como, mesmo sem nunca ter lido, fazia poemas com plena noção de espaço, formatação, alinhamento… enfim, uma vocação.
SELMO VASCONCELLOS – Quantos e quais os seus livros publicados ?
JANDIRA ZANCHI – Escrever é bem mais fácil do que publicar como todo poeta sabe. Principalmente publicar com visibilidade, com a possibilidade de divulgar o teu trabalho. O livro que estou divulgando, Gume de Gueixa, é editado pela Patuá, uma editora de São Paulo que vem fazendo um trabalho primoroso, principalmente em livros de poesia. Também publiquei Balão de Ensaio (Protexto-2012) e o livro virtual A Janela dos Ventos (Emooby-2012). Tenho muitos blogs de poesia e também de outros assuntos, participei da antologia virtual de Blocos Online, Saciedade dos Poetas Vivos – vol. 1, e, junto com você e outros poetas de talento, da antologia Poesia para mudar o mundo, também de Blocos.
SELMO VASCONCELLOS – Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesias ?
JANDIRA ZANCHI - Acho que não posso responder essa pergunta de uma maneira objetiva. Acredito que todo tipo de emoção, alegria, tristeza, medo, euforia, indignação, amor, ressentimento… enfim, escrever é uma forma de resolução, até de descoberta. Também faço uma literatura de ideias, prosa poética e, nesse caso, realmente, não só as tensões e os sentimentos impulsionam, sempre está presente a necessidade de perguntar e discutir os fins e os meios da existência.
SELMO VASCONCELLOS – Quais os escritores que você admira ?
JANDIRA ZANCHI - Em prosa, Eça de Queiróz, Proust, Machado de Assis, Joyce, Dostoievski… gosto de ler e reler os clássicos. Agora por exemplo estou lendo Petrônio. Em poesia me interesso mais pela contemporânea. Citaria Manoel de Barros, Adélia Prado, Ferreira Gullar… no Paraná, Márcio Davie Claudino, Rodrigo Madeira… através da Patuá estou lendo ótima poesia, Wilson Caritta, Homero Gomes, Elisa Andrade Buzzo… para citar alguns nomes, pois, são muitos.
SELMO VASCONCELLOS – Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?
JANDIRA ZANCHI - Ser poeta não é fácil, principalmente em um país como o Brasil aonde cultura não é uma prioridade. Porém, está melhorando. Editoras independentes, blogs, sites, mídias que se abrem. O que mais importa é a reverencia de cada indivíduo ao seu talento. Sempre vai valer a pena.
POEMAS
GUME DE GUEIXA
Sou uma única mulher
quando a trombeta anuncia
um inverno sem tropeços.
Os legionários da palavra
espiam sua falta de dados
como me fiz por nenhum motivo
conheço o luxo de ser nua e insofismável
inquestionável é a questão
e o próximo dia.
Também invoco nas santas armações
da luta contínua por porto algum
as desculpas estilhaçadas em farpas
dos ausentes cansados em dentes de ogro.
Mas me canso descanso de meu fel.
Ardia na boca do estômago a fúria da pretensão
– esqueci-a retaliada no sofá branco e bagunçado –
deve haver algo melhor do que essa faca
gume de gueixa
a ponta de prata que rebola a qualquer ultraje
para dentro através da margem.
e porém… como dizia tenho azia
dor de baço e um cansaço…
aí retomei a pena e o pó dos livros
a lide das pernas e a busca do pão
pensei no amor como um condimento vespertino
dos enfeites adiei o aprumo
e por três ou quatro minutos
dos restantes sorri e adormeci
ali ao pé do carvalho planto, morena,
serena e de orvalho em pé e sombra
afogada e deslumbrada
– o nome daquele é o mesmo deste?
Estes os problemas e sua função.
Gume de Gueixa (Patuá-2013)
ADVÉRBIO
O luar já amanheceu
a clara clareira
de suas veias
espreitou por
entre as nuvens
noivo marítimo
enluarado
fértil planície
fóssil fascinado
pelo advérbio
abreviado
e requisitado
que antecede
o instante faceiro
uns acordes assoprados
das entoadas fúteis
dos outros astros.
Gume de Gueixa (Patuá-2013)
3 NOTAS
alcanço o canto da estrela prima
solo de cordas e acordes
perfume – encanto – da noite vacilante
ante o astro que em suas 3 notas sibila
o sonho aspirado de alguma madrugada vadia
enquanto tua alma crescendo em
crescente crisálida
é o movimento – aleatório – do vento.
A Janela dos Ventos (Emooby-2012)
DESCRÉDITO
e o passo da vida
é passar o homem
até o descrédito
da fonte
(como se sua alma
de pássaro pudesse
beijar clausuras e
arvorar créditos
a malfeitores do
banquete dos Anjos).
Balão de Ensaio (Protexto-2007)
QUASE ÁGUA
Não falo desses olhos ou dessas espreitas no terraço e na mesa…
não há interesse ou vontade na poesia de fugir do sujeito e sua cordilheira
de astros armazenados e flutuados nas sombras ou na luzes
não existe motivo ou centelha de verdade além da cauda da lua
maviosa morena misteriosa
surgindo na noite profunda intensa de seu vácuo e eternidade
a alma sentada em seus mantos e prantos encantada com o milagre
o movimento os seres e a água
a luz e o meio tom do impenetrável
final de tarde
então, o concreto e a paz entremeando a jornada
o porque e o não sei mais o que
essas sentenças que não se pontuam
e nem finalizam
pois é o sonho no centro ou nas paralelas o som da poesia
essa fadiga do encanto e do silêncio – é quase água.
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