A verdade é uma fruta vermelha e todas as
filosofias nunca foram mais que a ausência de cor.
Daniel
Lopes
Para os leitores
dos contos de Daniel Lopes uma
questão sempre se fez presente: Parece que aqui há um enredo de Romance? Pois
bem, após lançar sua coletânea estórias curtas em 2011: Pianista Boxeador. Neste ano ele nos oferece a Fruta.
Na primeira
parte da obra denominada Ciranda, as personagens nos são
apresentadas, num movimento que ao mesmo tempo as une e as aparta. Matheus um outsider, artista com alma
fragmentda, não consegue caber no mundo-caos. Clara poderia ser uma daquelas garotas que têm sua estória cantada
por Lou Reed (Clara says), por não se
pertencer, se entrega, mas o vazio-nódoa não a abandona. Jude tal como Molly e Nick Drake, herdeiro genético de Clara, aqui
não falamos de traços físicos, mas sim do desencaixe existencial. Fátima, Tirésias, zeladora da sobrinha
e do sobrinho-neto, o amor em forma de doação: No mundo a gente precisa cuidar do outro melhor do que cuida da gente
mesmo. (pg.25)
Nos momentos em
que há a presença de um narrador onisciente e principalmente na fala de Matheus,
o autor demonstra sua vocação para ensaísta e força o limite do Romance para
além do ato de narrar, mas isso sem apelar para inovações estilísticas. É por
meio da palavra que o recado é dado: A
palavra é uma forma muito pequena para um bolo grande demais. Eu queria
transformar a própria forma em bolo. (pg.13)
Se quisesse
Daniel poderia conduzir sua ficção dentro do rótulo de literatura periférica,
mas não, ele sabe que os dramas da existência não conhecem a geografia e muito
menos a economia. Jude e o amigo Caroço numa peneira de futebol, Tia Fátima e a
oferta da sua divina comida, brigas entre turmas. Tudo isso é atinge a
universalidade, demonstrando que o desejo pela fruta é margem e não o tato que
atinge a casca, como poderia pensar o senso-comum.
Fruta possui
forte diálogo com roteiro cinematográfico, a precisão com a qual as cenas são
descritas criam na mente imagens belíssimas. Apesar do deslocamento no qual
vivem as personagens, elas recebem ternura de seu criador, pois é aí que está
uma das marcas do escritor: A antítese. Seu lado mineiro Barroco.
Em Catavento, segunda parte da obra, assim como numa
tragédia grega, o encerramento da narrativa provoca a catarse no leitor. Se
Édipo não conseguiu fugir do seu destino, aqui, as personagens têm como trágico
o próprio ato de existir: vida ou morte para o casal, sucesso e fracasso para
os jovens amigos e a espera ampliada pela falta de visão de Fátima. Se a música
nos toca sem que tenhamos aberto o canal de comunicação para ela entrar, Let it Be, dos Beatles, é o mantra que
envolve os últimos sucessos da vida e seus desajustes no cotidiano-apocalipse
de Daniel e suas criaturas.
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