Entalado em chaminé, velhote obeso é detido à
meia-noite do dia 24
Após o
constrangedor flagrante e identificando-se apenas como Noel - que não sabemos
ainda tratar-se do nome verdadeiro, apelido ou codinome - , o suspeito não
portava documento algum, vestia roupas de cetim vermelho e foi imediatamente
encaminhado à Terceira Delegacia Seccional da Zona Norte para interrogatório e
demais averiguações. O enorme saco que trazia às costas, também em cetim
vermelho, comportava uma incalculável variedade de mercadorias, em sua maioria
brinquedos, todas elas sem Nota Fiscal. A evidente suspeita de contrabando
levou o delegado a acionar a Polícia Federal. Interrogado pela autoridade
aduaneira competente, o septuagenário não se defendia das acusações e se
limitava a articular, de quando em quando: "É Natal, é Natal... Ho, ho,
ho...".
O detetive
Lampreia, que costuma assessorar o delegado local nesse tipo de investigação,
deduziu que Natal, a capital do Rio Grande do Norte, talvez seja ponto de
receptação da muamba.
Somada à
suspeita de contrabando, o idoso foi ainda indiciado por invasão de domicílio,
sendo o delito testemunhado por centenas de moradores das vizinhanças da casa
invadida. Questionado sobre a razão que o motivou a praticar tão reprovável
ato, Noel respondeu: "É o nascimento de Jesus". Foi quando o
Cabo Jonas comentou com o detetive Lampreia lembrar-se de um meliante, que há
oito anos fora detido e fichado na mesma delegacia sob acusação de latrocínio,
cujo nome era Deoclécio Nascimento de Jesus. Estabelecia-se assim mais uma
conexão suspeita, que complicaria ainda mais a situação do barbudo e também
envolveria Deoclécio como provável cúmplice ou co-autor da façanha.
O
interrogatório, ou a tentativa de, prosseguiu madrugada adentro e ao longo de
todo o dia 25, mas o misterioso caso permanece inconclusivo até o momento. O
que mais intriga os investigadores é o fato de que, fosse Noel realmente um
bandido, não vestiria traje tão berrante e espalhafatoso, pois obviamente sua
ideia seria a de não chamar a atenção.
Nesse meio
tempo, o Cabo Jonas levantou a hipótese de formação de quadrilha entre
Nascimento de Jesus, Noel e o dono da residência, que até então mantinha-se a
salvo de maiores suspeitas. Argumentou o Cabo que o envolvimento do morador era
muito provável, pois era em sua casa que Noel tentava adentrar com o
contrabando. E que se, ao invés de entrando, Noel estivesse saindo com as
mercadorias pela chaminé (o que a princípio contraria a lei da gravidade),
teríamos o dono da casa indiciado como receptador de produtos sem procedência,
e o velhote Noel acusado de ladrão de muambeiro.
Aos
munícipes que tiverem alguma pista ou informação que ajude a elucidar o caso,
pedimos a gentileza de encaminhá-las, ainda que anonimamente, às nossas
autoridades.
© Direitos Reservados
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário