sexta-feira, 21 de março de 2014

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Caronas da Sedução



– a gênese de um mito

“Eu não sei fazer poesia
Mas que se foda
Eu odeio gente chique
Eu não uso sapato
Mas que se foda”, Charlie Brown Jr.

Sabe-se que um dos prazeres da vida é desfrutar da companhia de uma bela mulher, porém mentes a margem do que a sociedade classifica como normal praticam atos incomuns ou até mesmo bizarros por assim dizer. O que leva o ser humano a burlar regras gerais de convivência em uma sociedade civilizada? Angústia? Ânsia pelo poder e o controle das coisas? Puro fetiche?

É difícil entender a mente de qualquer ser humano, ainda mais quando estes fogem do padrão!

Novembro de 2008, numa tarde chuvosa, muito trabalho para os funcionários do Hospital das Clinicas, Roberto de Sá, um jovem calmo e quieto, dá entrada no PS para tratar de um corte em seu antebraço esquerdo, questionado da origem do tal ferimento Roberto responde apenas que escorregou com a chuva e feriu seu antebraço em um caco de vidro a beira do calçamento.

Daniele Annie Abbott, enfermeira 25 anos de idade solteira, uma bela jovem de cabelos longos e ruivos é a responsável pelo curativo e medicamentos de Roberto, encantado com a moça o jovem de poucas palavras, pergunta:

- Oi você sabia que eu respondo as NF’s no meu trabalho?

A bela jovem sem entender do que se trata gentilmente lhe responde:

- Toma seu remédio e não me perturbe com esta conversa fiada.

Roberto sente naquela moça uma mulher de personalidade forte, uma dominadora, mas outra coisa ainda lhe chama mais a atenção, o uniforme de enfermeira.

A partir deste dia Roberto não se deu por vencido, semanalmente fingia supostamente estar doente simplesmente para dar entrada no PS em busca de Daniele. Meses se passaram e a jovem não se sabe se por pena ou atração começou a tratar Roberto com mais delicadeza.

Durante semanas Roberto descompromissadamente oferecia caronas para Daniele, alegava que não tinha problema, pois o Hospital era no caminho entre sua casa e o trabalho, porém, a grande verdade é que Roberto morava na cidade vizinha e sequer tinha trabalho.

Por intermédio dessas “viagens”, Roberto começou a criar um sentimento; uma anomalia amorosa que resultava num simples pingar de suas mãos.

Tão rápido quanto o surgimento do amor do mocinho, Daniele foi se afastando, pois não conseguia mais disfarçar seu constrangimento em ver aquele pobre rapaz de mãos suadas e sorriso torto olhando para o seu rosto sem uma simples palavra a ser dita.

Com medo de machucar ele ainda mais com falsas esperanças, pediu transferência dali, para onde ele jamais conseguiria achá-la...

Desesperado Roberto vaga pela região noites e dias a procura de Daniele, sem pistas, cansado, sujo, adormece sob a marquise de uma lanchonete; já é dia e o sol de verão frita seus miolos, eis que surge Hooly Hooper, uma mulata de cabelos cacheados, enfermeira voluntária que cuida de moradores de rua. Hooly convence Roberto a ir com ela até o abrigo São Judas para que tome um banho e coma algo.

Banho tomado, vestido da surrada e grossa camisa preta, Roberto se senta à mesa e toma oito pratos de sopa, não satisfeito pede para comer mais dois!

Enfraquecido e confuso se persiste em sua busca por Daniele ou investe em sua ligeira atração por Hooly Hooper, Roberto pensa.

- Ainda não terminei com Daniele, preciso encontrá-la, e algo surpreendente acontece.

Ao mostrar uma foto de Daniele para Hooly Hooper ela confirma que a conhece vagamente, pois ela trabalha no turno da noite, porém está em missão de amparo aos jovens carentes em uma cidade vizinha e voltará apenas na próxima semana.

Fim de expediente, Holly pergunta ao jovem se ele tem pra onde ir, o mesmo lhe diz que seu carro está estacionado na Praça 11 e Hooly prontamente lhe oferece uma carona para o resgate do veículo.

Ao chegar à praça a noite cai, o clima romântico brota e ambos se entregam numa noite de amor em plena praça chegando ao ponto de pararem na delegacia por atentado violento ao pudor.

Confusão resolvida, ambos liberados, uma despedida calorosa, eis que um investigador pergunta a Roberto se não se conhecem de algum lugar, meio assustado desconversa e rapidamente deixa o local.

Três dias se passaram e Daniele em sua labuta na cidade vizinha, justamente a cidade de Roberto, dentro de uma drogaria ela se depara com um retrato falado cujas características lembram seu ex-amigo, indignada ela pergunta ao balconista:

- Quem é este jovem?

- Este é o Beto Balada, um jovem com fixação por enfermeiras, em uma de suas últimas tentativas a vítima conseguiu escapar após entrar em via de fato e desferir-lhe um golpe de canivete em seu braço esquerdo. A polícia está à procura do rapaz, mas ninguém sabe nada na cidade.

- Mas porque Balada?

- Era um jovem extrovertido sempre esbanjando dinheiro nas noitadas e ao que tudo parece, pelos relatos desta enfermeira, Balada pode ser o serial killer que vem atacando as enfermeiras da região.

Chocada com tudo o que ouvira, Daniele entra em pânico, mas ainda não entende o comportamento tão diferente entre aquele descrito pelo balconista e o rapaz que conheceu. Mesmo intrigada, Daniele tenta se convencer que tudo não passou de uma simples coincidência, pois ambos apresentavam um comportamento muito distinto.

Mais alguns dias se passaram, são oito horas da noite e é hora do sopão no abrigo São Judas. A fila se forma, Daniele serve os famintos, eis que uma voz suave sussurra em seu ouvido.

- Oi Dani, lembra de mim? Estou há meses te procurando, você sumiu.

Em um átimo toda a história desde o dia em que se conheceram no hospital (Roberto com o antebraço cortado: “... eu respondo as NF’s...”) passa pela sua cabeça e, antes que pudesse ter uma reação intempestiva, um espasmo involuntário percorre o seu ventre, os bicos rosáceos dos seus seios ficam entumecidos, projetados para frente, os grandes lábios se tornam escorregadios, separando-lhe as partes. E Daniele diz para ele, quase num sussurro:

- Eu largo às 23h, me espera lá fora, hoje você vai comer muito mais do que canja de galinha.

Roberto pega o prato fundo de sopa que a jovem lhe oferece, faz um breve aceno com a cabeça em consentimento e senta-se numa das longas mesas de madeira junto aos moradores de rua. Por dentro ele está radiante de emoção, certo de que vai se fartar com a carne nova e suculenta da enfermeira. Ele a fita do seu canto. Daniele está linda em sua calça e blusa completamente brancas: os seios firmes e bem torneados, a bunda firme, arrebitada, enchendo todo o traseiro da calça, os longos cabelos ruivos e suas bochechas levemente rubras – talvez devido ao inusitado do encontro – faz com que seu semblante pareça iluminado de luz, repleto de vida.

“O que será que deu em mim? Esse Roberto pode ser mesmo perigoso. Mas isso não condiz com as suas atitudes, ele é muito tímido, já percebi suas mãos suando quando ele esboça o simples desejo de se expressar. O que será que ele queria tanto me dizer ao longo de todas aquelas semanas? Será que iria confessar algum crime? Não deve ser nada disso, aquilo me parecia amor platônico! E quem ama não é capaz de fazer mal ao objeto de seu amor. Ah, Roberto... saudades tuas, menino!”

Enquanto as horas correm noite adentro, vários outros moradores de rua passam pelo sopão do São Judas. Eles entram e saem do barracão, alguns sozinhos, outros em pequenos grupos. Apenas Roberto permanece. Ele já havia tomado cinco pratos de sopa pelas contas de Daniele. Ela tinha sentimentos antagônicos, era como se houvessem duas Danis dentro dela mesma: uma queria fugir pela porta dos fundos às 23h em ponto, ou ainda melhor, chamar a polícia. A outra Dani queria devorar Roberto, se entregar para ele como nunca, lamber os seus dedos suados, perscrutar os segredos mais íntimos de sua timidez. Era o mecanismo voraz, instintivo, de ataque e fuga, típico dos animais, que oscilava nela, fazendo com que as horas se passassem sem que nehuma definição fosse tomada.

Aquela noite passou voando no abrigo do São Judas. Quando Daniele se apercebeu, havia apenas três moradores de rua tomando canja numa mesa e Roberto estava noutra, assistindo televisão. Ela olhou para aquele corpo magro, camisa social preta colada ao seu corpo, um braço mais anabolizado que o outro. “Ele não me parece um morador de rua. Será que ele responde mesmo NF’s ou é jogador de tênis? O que será que ele faz aqui?” Em meio aos seus pensamentos Dani observa Roberto se levantar da mesa, ele deixa a bandeja sobre a pia, olha discretamente para ela e faz um sinal tímido com a cabeça. Ela sabe que ele estará a esperando lá fora.

Dani olha para o relógio, 22h45min, seu coração dispara, sentimentos como o medo, a angústia e a excitação tomam a sua cabeça. Enquanto isso, Roberto se esconde por detrás de uma moita e observa Dani atentamente pela fresta de uma janela enquanto se masturba ferozmente com a sua mão esquerda e suada – aquela do braço anabolizado.

Chegou à hora, o sinal toca, é a troca de turno, dez minutos se passam. Roberto está apreensivo com a demora de Dani, pensa em adentrar o recinto novamente quando Dani aparece exuberante na porta, num vestido azul com um belo decote, pernas lisas a mostra.

Eis que um sentimento de fúria toma conta de Roberto atormentado com a presença de Daniele. Ele sente o seu perfume, o rapaz só pensa em levá-la para longe o mais rápido possível, toda aquela ternura é convertida nos sentimentos mais perversos que se pode imaginar. Embora Daniele estivesse linda, para Roberto o encanto da enfeimeira que conheceu foi embora, pois em sua mente perturbada o branco é a representação do estado de pureza e Dani, ao deixar suas vestes de trabalho, passara a ser vista como uma mulher maculada pelo pecado.

Já dentro do carro Daniele pergunta a Roberto para onde pretende levá-la, apreensivo ele lhe diz que será uma experiência inesquecível, porém precisa passar em um lugar no caminho para acertar alguns pequenos detalhes.

Roberto pára o carro, segue a pé por alguns metros e adentra o “mão amiga” dez minutos após, já aliviado, coloca a mão no bolso e saca uma cartela de comprimidos. Roberto toma de uma só vez oito comprimidos de Viagra.

Ao retornar ao carro cobre Daniele de carícias, beijos e abraços. Neste momento uma jovem que atravessava a rua reconhece o rapaz. Ela é Carla Perez, a enfermeira que escapara de Roberto no seu último ataque, a mesma que o feriu com um canivete no antebraço esquerdo.

Carla Perez fica trêmula, mas mesmo cheia de medo, quase em pânico, decide seguí-los. Carla sobe em sua Yamaha Jog 50cc e acompanha o casal.

Roberto percebe que está sendo seguido, um sentimento misto de medo e fúria toma conta de si, as mãos trêmulas ao volante começam a gotejar, sua camisa apertada agora está empapada com seu suor fétido e adocicado. E mesmo após dezoito punhetas, incrivelmente seu enorme pênis de 5cm ameaça rasgar as calças de tergal apertadas.

O semáforo muda para o vermelho, Roberto olha para o lado esquerdo e se vê lado a lado com Carla Perez. Ela desvia o seu olhar para os seios fartos de Daniele e começa a conversar com a garota. Roberto suspira aliviado, percebe que as duas já se conhecem de outros carnavais e pressente um leve clima de romance no ar. Daniele segura aquele enorme martelo de cabeça vermelha, mostra para Carla que fica surpresa e esboça um leve sorriso de satisfação.

O sinal abre, Roberto olha para Carla em sua motoneta e diz:

 - Paradise Motel?

Arranca com o carro e Roberto olha pelo retrovisor. Ela estava os seguindo, para o supremo gozo do jovem de Sá. No caminho, Daniele aproveita e cai de boca naquele martelo suado: o nervo malhado pelas mãos calejadas do mono-bíceps.

Chegando ao Paradise, Roberto pára na portaria e pede logo o “corredor da morte” com direito a pizza de calabreza e tubaína 2 litros.

O trio entra na suíte, luz baixa, ambiente cheirando a sexo e o colchão ainda com manchas úmidas da última transa.  E é neste momento que Carla diz para Roberto:

- Relaxa Roberto, eu e Daniele vamos tomar um banho!

Roberto ao mesmo tempo se mostra excitado e intrigado. “Será que ela não me reconheceu”, ele pensa. Pela fresta da porta ele espia o banho onde as belas se acariciam, uma ensaboando a outra, elas se abraçam e se beijam ardentemente debaixo do chuveiro. É uma cena e tanto. Roberto só imagina o momento seguinte em que poderá desfrutar das duas sobremesas com a sua tora sarada do comprimento de uma colher de chá.  

Roberto bota seu bíceps para trabalhar novamente e, empolgado pela situação, não se dá conta que durante o banho Carla Perez conta sua terrível experiência com o rapaz e tenta convencer Daniele a arquitetar um plano de vingança.

- Carla, vamos deixar esse gaiato largado de tanto dar a boceta, depois a gente amarra ele na cama e chama a polícia.

Carla Perez concorda. Ambas estão muito excitadas e querem tirar proveito da situação. É sabido que no jogo da sedução reside pleno exercício de poder (do latim phoder), onde os atores lutam por subverter a separação do universo em opostos, buscam a fusão de seus corpos no gozo supremo. Elas se sentem como viúvas-negras, espécime conhecido por devorar o macho após a cópula.

Roberto bota Dani deitada de costas na cama e manda Carla Perez aguardar sua vez. Dani se assusta, agora ele não parece em nada com o garoto tímido que tinha por amigo. Carla Perez diz que ela quer ir primeiro, mas Roberto faz o papel do big boss e responde truculento:

- Cala a boca e olha pra aprender como é que se mete!

Roberto vai subindo carinhosamente com sua língua pela parte interna das pernas alvas de Dani. Dando beijinhos aqui e ali, ele percebe a garota toda arrepiada e gemendo de tesão. Aquilo faz o seu martelo latejante vibrar como um diapasão. Finalmente ele chega ao ventre da garota, que está praticamente uivando delirante de paixão.

Roberto levanta os olhos, ele vê alguns poucos pêlos pubianos, delicadamente aparados, ruivos, doces, encaracolados, como delicadas filigranas de ouro. Ele mete a língua naquela caverna, suga o suco do seu cálice, chupa o grelo e Dani se debate na cama, exultante num mesmo gozo que já dura quase quatro minutos.

- Vai Roberto, agora me enfia a sua tora!

Ele não tem dúvidas e enche a caverna adornada de ouro de Dani com sua pica-martelo-sarada de uma só vez. Roberto imaginava que a garota fosse chorar com todo aquele volume a preenchendo numa tacada só. Mas que nada, para sua surpresa, Dani grita, ainda em meio ao gozo:

- Agora, põe toda a sua vara!

 - Eu já enfiei tudo, Dani.

Carla Perez cai numa gargalhada só. Aquilo parece demais para de Sá. Ele se sente oprimido pela voracidade e gula das garotas. Isso desencadeia estranhas reações e sinapses nervosas em seu corpo já saturado por: cinco pratos de canja, oito comprimidos de Viagra, três pedaços de pizza calabreza e dois copos de turbaína. Carla Perez liga o rádio do motel justamente quando está tocando:

- Don’t wanna short dick man, dick-dick, don’t wanna short dick man!

A careca de Roberto fica vermelha e ele completamente ensandecido, não gosta de ver a sua autoridade de chefe das NF’s usurpada por duas ninfetas cuidadoras de enfermos. Ele diz para a jovem Daniele:

- Tá pouco pra você? Quer sentir o poder do meu fist mono-bíceps na sua gruta dourada?

- Manda ver!

Responde Dani, toda ensopada de prazer em espamos frenéticos assíncronos com o ritmo bate-estaca do martelo e da música.

Roberto enfia o seu punho esquerdo na caverna úmida de Dani e a intensidade do seu gozo aumenta ainda mais. Ele avança lentamente e vai botando até a metade do antebraço. A garota grita num misto de prazer e dor. Ela já está num mesmo gozo há quase oito minutos!

Então de Sá submete-a aos píncaros do prazer, quando comprime sua mão esquerda e a rotaciona 90 graus para fora, fazendo inchar o seu mono-bíceps, praticamente empalando Dani. Finalmente, ela sucumbe de sua voracidade de fêmea no cio e desaba desacordada.

“Dani morreu porque tinha os olhos maiores que a boca. Quis comer picanha demais de uma só vez.”  Carla Perez finalmente compreende que Roberto é boa pessoa e não o lobo mau que imaginava. “ Afinal, tudo que ele quer é nos dar prazer.”

Mas a essa altura Carla Perez já havia passado a chapa do Gol para a polícia e as coordenadas do Paradise Inferninho, em poucos minutos certamente eles estariam chegando e dando voz de prisão ao garanhão do martelo colher-de-chá. Ela lhe disse:

- Roberto, sobe na garupa da minha cinquentinha, rápido!

Roberto, que havia entendido mal o pedido da garota, cravou sua vara de pescar girino bem no meio do traseiro suculento de Carla Perez. Ela gemia de prazer. Carla Perez remexia a colher de chá bem lá dentro do seu cofrinho, arrepiava da cabeça aos pés toda a vez que o valente de Sá dava com as costas da mão no seu lombo apetitoso. Ficaram engatados assim por uns três minutos, na mesma cama ao lado da finada Daniele.

Então Carla Perez caiu em si e disse para Roberto:

- Eu vou te ajudar a fugir, vem comigo!

Eles abandonaram o gol no motel com a bateria arriada e o corpo da Dani largado sobre a cama, regado por litros de esperma. Quando a polícia chegou teve certeza que Beto Balada tinha feito mais uma de suas vítimas em um ritual macabro.

Carla Perez deixou de Sá no acostamento da Dutra, próximo a uma saída para Jacareí. Ela disse para o Balada:

- Tá vendo essa avenida? Tem um monte de empresa. Entra numa delas e finge que está trabalhando. Mas finge direito, senão a polícia te pega. Eu apareço de motinho pra te dar um chá de chavasca na saída.

Reza a lenda que desde então Roberto de Sá transmutou-se em funcionário exemplar. Há quem diga que na capa do seu caderno está escrito Anotações de NF’s, mas se colocado de cabeça para baixo contra o espelho do banheiro é possível ler em letras monotype corsiva: Caronas da Sedução.

by Jorge Xerxes et alii




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