quinta-feira, 19 de junho de 2014

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NO LUGAR ONDE O SOL É RADIANTE - SÔNIA PILLON

Dia desses estava caminhando por uma rua no Centro da cidade, dessas que não se presta muita atenção, justamente porque as pessoas passam todos os dias por ali e nada acontece de novo. As mesmas casas, gradeadas ou muradas, com suas janelas fechadas, a calçada irregular... Os veículos sempre 

passam por essa rua, que serve de atalho, de manobras rápidas, até a chegada à rua principal.

Vamos aqui preservar o nome da rua. Afinal, é uma dessas ruas que não se presta muita atenção, cinzenta, fria, inexpressiva, como inúmeras outras, em qualquer lugar do mundo.

Pois bem! Era um dia como qualquer outro, em uma rua como outra qualquer, mas algo me chamou a atenção. Em uma fração de segundo, meus olhos se permitiram olhar, e enxergar, algo que imediatamente me chamou a atenção e me remeteu à infância.

Na minha frente, enquanto caminhava apressadamente em direção a um restaurante próximo, em um dos jardins, cercado por grades de ferro, em meio às flores, bonecos de gesso representavam um clássico desenho animado de Walt Disney.

Distribuídos harmoniosamente na grama meticulosamente aparada, iluminados pelo sol do meio-dia, ali estavam “Branca de Neve e os Sete Anões”, que pareciam ganhar vida. O conto de fadas criado pelos Irmãos Grimm, que foi eternizado na tela grande pela primeira vez em 1937, o primeiro longa-metragem de animação dos estúdios Disney, como que por encanto, veio à tona.

Sim , porque imediatamente a ludicidade aflorou em meus recônditos! Não me contive: peguei o celular e registrei os personagens. Acho que um lado meu, cansado de ver mazelas, violências, desrespeito e insensibilidade, de constatar o egoísmo e a frivolidade que rege as relações sociais, num mundo regido pelas aparências, gritava por uma imagem como aquela: uma “floresta” onde o sol é radiante, onde há uma princesa, sete anões protetores e a esperança de felicidade.

Há momentos que a realidade é tão dura... Quando se é criança, é possível criar um mundo paralelo, de faz-de-conta, de brincar e de se preparar para a vida adulta. Mas, e quando essa infância é arrancada de uma criança e ela fica sem referência de família, exposta a todo tipo de violência? Essas crianças, com certeza, não têm acesso a estórias como essa...

Sempre acreditei que para contrabalançar a luta árdua do dia a dia, é preciso encontrar um ponto de equilíbrio, e entendo que aúnica forma que se tem de sobreviver a isso é não deixar o coração endurecer, é manter um lado criança dentro da gente. Para mim, a capacidade de amar e de guardar boas lembranças nos permite seguir vivendo, renovando as forças a cada dia, sem dar espaço para o amargor.

Hoje, ao pegar o celular, encontrei a foto de novo. E nesse momento, quando o cansaço e o desencanto tomaram conta de mim, lembrei novamente do lugar onde o sol é radiante, e onde a esperança povoa os nossos pensamentos. Espantei o desânimo. Ainda há muito por fazer e realizar. Como diria Cora Coralina, “se a gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves da alma”.

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