Silvio e Silvia 2
Desse pequeno incidente, se é que poderia ser chamado de incidente, era mais
uma coincidência, na opinião de Silvio, portanto, desse pequeno momento de
humor, aos poucos se solidificou um fio, não muito forte de amizade entre eles.
Durante o processo de conhecimento, para depois chegar ao relacionamento,
Silvia achava que naquela massa de poucos músculos encontraria o que sempre
procurou. Não tinha coragem em dizer a sua preferência para o amigo. Silvio não
passava e nem pretendia passar uma imagem que não autentica que não fosse
simplesmente a dele. Desde o inicio foi sincero com Silvia. Agradecida viu em Silvio
um caráter forte, decidido no que queria, e a sua sinceridade é que aconchegou
mais a intimidade deles. Silvia nunca pensou na sexualidade das pessoas e,
muito menos na sua sexualidade, ouvia muitos comentários disso ou daquilo,
nunca tivera intimidade com um homossexual, tanto masculino como feminino, os
via sempre à distância, assim cara a cara, falar, tocar, chegar ao ponto de se
encontrar, de amar, e o mais estranho, criar uma sólida amizade que ultrapassou
o limite da amizade, nunca imaginou que pudesse um dia viver uma aventura
dessas. E ali estavam bebericando um à palavra do outro entre copos e copos de
cerveja.
Alegres, conversavam sem se preocuparem com o
tom de voz. Afinal, eram jovens e, a juventude beijava a face da beleza
resplandecendo o brilho de cada um sem preconceito. Sofrendo de solidão
levando-o ao caos sentimental, sem entender o que se passava, Silvio encontrou
nela um porto, um apoio, não pensava que um dia poderia se expor ao ombro
amigo. Não vá se apaixonar, dissera ela. Silvio repetiu. Não vá se apaixonar,
disseram os dois, um para o outro. Era uma tarde de domingo, não tinham nada
para fazer. Estirados no sofá, a televisão ligada sem que prestassem a atenção,
Silvio se comprazia em sentir o calor do corpo feminino tocando sua pele rígida
de prazer. Poucas vezes sentira a fragrância feminina como estava sentindo, os
bicos rosados comprimindo seu peito cabeludo, a mão carinhosa subindo e
descendo, indo e vindo por entre o pijama, às vezes tocando a virilha numa
inocência que não levava a excitação sexual, mas a sensação de ter tudo o que a
vida poderia lhe dar. E desse tudo tendo às vezes a noção de não ter nada,
jamais abriria mão, por nada, disse fixando o olhar no rosto moreno de Silvia,
que sorriu ao sentir-se protegida.
pastorelli
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