sábado, 1 de novembro de 2014

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O SORRISO DA BAILARINA

Após muitos anos em companhia das sapatilhas, os pés formatados, presos pelo calçado, queriam experimentar a liberdade, traçar o próprio rumo sem mapa, roteiro ou bússola. Trocou o solo, onde com leves toques e voos construiu coreografias por flutuações mais demoradas. As solas agora, levavam poeira de vários lugares, pelos quais passou, mas que permaneciam com ela. Ao contrário dos demais adultos, não deixou de acreditar no fantástico ao longo de seu itinerário pelo tempo, queria se juntar às estrelas cadentes que bailavam nas noites do céu, noites que também eram tão suas. O escuro que sempre sucede o dia a hipnotizou, saiu para caminhar e ver o lago de quem se tornara vizinha temporariamente... O rosto refletido no água, logo lhe trouxe a impressão de que era parte daquilo que de longe sempre admirou. Um sorriso sem explicação, com a sinceridade que só os verdadeiros têm, apareceu em sua face, ela como uma sacerdotisa de um culto pagão, despiu-se da fina camisola para dançar em homenagem a si mesma, flutuando no cenário da sua própria peça: Pedaço de um todo.




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