Após muitos anos em companhia das
sapatilhas, os pés formatados, presos pelo calçado, queriam experimentar a liberdade,
traçar o próprio rumo sem mapa, roteiro ou bússola. Trocou o solo, onde com
leves toques e voos construiu coreografias por flutuações mais demoradas. As
solas agora, levavam poeira de vários lugares, pelos quais passou, mas que
permaneciam com ela. Ao contrário dos demais adultos, não deixou de acreditar
no fantástico ao longo de seu itinerário pelo tempo, queria se juntar às
estrelas cadentes que bailavam nas noites do céu, noites que também eram tão
suas. O escuro que sempre sucede o dia a hipnotizou, saiu para caminhar e ver o
lago de quem se tornara vizinha temporariamente... O rosto refletido no água,
logo lhe trouxe a impressão de que era parte daquilo que de longe sempre admirou.
Um sorriso sem explicação, com a sinceridade que só os verdadeiros têm,
apareceu em sua face, ela como uma sacerdotisa de um culto pagão, despiu-se da
fina camisola para dançar em homenagem a si mesma, flutuando no cenário da sua
própria peça: Pedaço de um todo.
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