quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

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A INTOLERÂNCIA QUE ABREVIA VIDAS - SÔNIA PILLON

“Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás.” O microconto de Cíntia Moscovich sintetiza a comoção que tomou conta de Santa Catarina e do mundo desde a terça-feira, com a morte prematura do surfista Ricardinho, aos 24 anos de idade.  Bastaram dois tiros, um deles pelas costas e outro que atravessou vários órgãos internos, para ceifar brutalmente a vida de Ricardo dos Santos. Mais uma vez, a intolerância se sobrepôs à razão e ao bom senso, e uma discussão banal resultou em uma tragédia. Até quando assistiremos esse tipo de barbárie?!

Os que conheceram Ricardinho são unânimes em afirmar que ele não merecia esse fim. Do olimpo do surf profissional, estrelas como Kelly Slatter e o brasileiro Gabriel Medina, atual campeão mundial, não pouparam elogios ao catarinense apaixonado pelas ondas gigantes. “Moleque gente boa”, “do bem”, “alegre, de bom coração e de bem com a vida” são algumas das referências carinhosas feitas ao atleta das águas, que essa semana foi homenageado no Havaí, a Meca do Surf, com uma roda no mar formada por surfistas.

Legítima defesa? Pelas costas?!

O acusado dos disparos, um policial militar que reconhece a autoria, alega legítima defesa. Como assim? Pelas costas?! Essa não é a primeira vez (e com certeza não será a última!) que um policial é acusado de abuso de autoridade.

A sociedade catarinense clama por Justiça e pela investigação rigorosa dos fatos. Afinal, os que usam uma farda da Polícia Militar e portam armas de fogo devem seguir os princípios de honradez e de defesa do cidadão. Caso contrário, devem ser exemplarmente punidos e banidos da corporação.

Que esse triste episódio sirva de lição para todos nós! Vivemos  uma época em que o individualismo e o ego imperam nas relações humanas. O acirramento da competitividade ocorre em todas as instâncias e compromete a vida em comunidade. Transformar uma divergência em afronta pessoal, se deixando levar pelo descontrole emocional, é uma atitude imatura que se contrapõe aos princípios básicos de civilidade.

Banalizar a violência é retornar à barbárie, à era das cavernas. De nada adianta vivermos na era da tecnologia se mantemos uma mentalidade de selvagens, não é mesmo? Fica a reflexão.


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