quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

0

Pequenas histórias 124.






A manhã trouxe






A manhã trouxe uma temperatura baixa e uma garoa infernal queimando a pele da insatisfação que, sabia, se prolongaria o dia inteiro.
Chato, mais um dia chato que se percebia no ar a incongruência fatídica, a qual, seria obrigado aguentar.
Sorriu levemente perguntando-se: porque sorrir quando não tinha nada para dizer?
Seria demonstração de incompetência literária injetando sofríveis palavras que possam, na aparência, dar uma sonoridade mais profunda?
Não, não era, sentia dificuldade em enfrentar o branco vazio da mente encarcerado no branco vazio da vida revelando a falta de vocabulário.
Necessário seguir o script que lhe foi destinado, não podia refazer reescrever o que os deuses, se é que existem, escreveram no papel da sua vida.
Visualizou no espaço das palavras a surrealidade que o deixou intrigado sem saber o que deveria ser realmente.
Foi então, ao virar a cabeça por causa de algo que lhe chamara a atenção, é que atinou com o fato de estar no lugar errado, que deveria era estar em outro lugar.
Mas, perguntou: como vou saber onde devo estar para que desse estar posso, de alguma maneira, tirar uma substância valida comprovando assim a necessidade de viver sem ser por viver?
Ouviu a resposta: é só simplesmente estar no lugar certo e na hora certa.
E como poderia saber quando é essa hora certa e o lugar certo?
Sua capacidade intelectual e, mesmo a capacidade fisicamente falando, não lhe dava a certeza correta do que seria a hora e o lugar certo!
Talvez, já tenha até passado e ele não tenha percebido.
Sua visão não alcançava além do limite que a vida havia lhe proposto.
Isto é, tinha limitações para visualizar o infinito além do que seu conhecimento lhe permitia.
Fechou os olhos pensando em dormir.
Porém, o raio do sol atravessou a janela emoldurando-o no quadrilátero de luz, símbolo de conhecimento e sabedoria.
Caberia a ele se livrar do tormento de viver só por viver.
Fechou o caderno, apagou a luz, se enrolou nos cobertores e, dormiu profundamente até o dia seguinte.
pastorelli

Seja o primeiro a comentar: