Ele parou
Ele parou. Parou na esquina dos acordes sonoros pulsando em fibras de carne retaliada nos passos cadenciados. Ele parou. Quantas vezes necessárias fossem pararia como agora parou. Olhou o céu. Azul, branco de nuvens conduzindo o sentimento aglomerado nas partículas do seu ser. Parou e olhou o céu. Viu o azul. Abarcou as nuvens num único ritmo contendo a vontade de expressar em gestos o que sentia.
Parou. Na avenida movimentada de dores
divergindo-se aos quatros cantos da alma embalada pela música romântica. Seus
dedos tremiam na ansiedade da carne distante. O corpo frenético dirigia-se a
esmo pela calçada nova da avenida, esbarrando propositadamente no vai e vem nos
desorientados.
Ouviu distante o som do violão tangendo cordas de
uma melodia amorosa. Quem poderia dedilhar um violão naquele momento, naquele
momento em que seu cérebro se comprimia para enxergar os detalhes? Não quis
saber. Não lhe interessava saber quem tocava, o que lhe importava era o que
tocavam a música em si, a música transpondo-o ao um mundo que não era seu.
Deixou-se entregar até o último acorde quebrar o
silêncio jogando-o no torvelinho da frenética avenida. Sentou no meio fio da
calçada. Uma voz gritou para que saísse senão poderia ser atropelado. Pouco se
importava. Que fosse atropelado. Assim acabaria com o tormento de existir por
existir. Se não houvesse você que me faz o que sou, deveria estar em outro
lugar e não aqui gritando na carne o que há de mim para você.
Parou definitivamente. Parou. Como ninguém mexeu
com ele, nem as autoridades, nem ninguém, decidiu que a partir daquele momento,
parado ficaria até se tornar uma estatua ofertando seu ombro para os pombos
defecarem.
pastorelli
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