terça-feira, 3 de março de 2015

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Pequenas histórias 131




Treze de maio






Treze de maio de dois mil e oito. Quantos treze de maio passei? O que ele estava fazendo dia treze de maio do ano passado? Como vou saber se não lembro nem o que jantei ontem! Que dia da semana caiu treze de maio do ano passado? Sei lá? Só verificando no calendário. Um momento.


Ah! Aqui está, caiu num domingo. Trezes de maio de dois mil e sete, domingo, porra, o que eu fiz nesse dia? Provavelmente tenha ficado em casa aturando inchação de saco familiar, levantado tarde, curtindo uma ressaca, tomado uma merda de café, feito uma coisa ou outra, passado a tarde toda no micro, talvez assistido um filme intragável, tomado banho, aguentado o Fantástico, caído na cama para na segunda recomeçar o sentido da vida na esperança das coisas mudarem. Acho que assim foi o meu treze de maio de dois e mil e sete.


Dia bunda, não acha? – escreveu no diário. Acha que foi assim mesmo? Pelo o que me conheço acredito que tenha sido sim. Tenha sido como saber se fora assim ou assado? Foi melhor que hoje? Acredito que sim, pois além de ter sido domingo... Quero dizer, psicologicamente. Difícil afirmar. Posso correr o risco de estar dizendo basbaquice, mas esse treze de maio é melhor que o do ano passado. Por quê? Bem, as aflições, os problemas daquele dia foram resolvidos, de uma maneira ou de outra, satisfatoriamente, e, além do mais é um ano que passei, um ano a mais na minha vida. Um ano que teve alto e baixo... Gostaria de saber se nesse dia escrevi alguma coisa. Cada pergunta difícil preciso fazer uma pesquisa nos meus arquivos.


O engraçado é que vinha martelando na minha cabeça a mesma frase: o que eu fiz no ano passado nesta mesma data? – e, hoje ao descer do fretado pensei: o que eu fiz no dia treze de maio do ano passado? E quando começou a escrever seus olhos se desviaram para o calendário de mesa. Maio! Esse mês tem uma data importante, alguma coisa com escravidão, lei Áurea, uma coisa assim. Foi então que ele parou de escrever. Pensou um momento. Conectou-se e abriu o Google, digitou: treze de maio. O programa puxou quase trezentos itens sobre treze de maio. Ele estava com razão: no dia treze de maio de 1888, uma senhora de 41 anos, portando uma caneta banhada a ouro, assinava um dos documentos mais importantes da História do Brasil: a Lei Áurea, dando liberdade a todos os escravos. Sabia disso? Não, não sabia. Acho que ninguém sabe ou se lembra dessa data. E para que lembrar? Lembrar cansa. Ter conhecimento não é saudável, não é mesmo? Cultura dá dor de barriga. Não pesquisei, mas acho que nem a mídia, nem as escolas lembram ou não querem lembrar essa data. Não é feriado, não é mesmo, então não quero nem saber. Não é assim que pensam?


Penso que nem... Como posso dizer politicamente correto. Não quero responder processo por preconceito, mas acho que nem os descendentes sul africanos – é assim? – lembram essa data importante.

Cotegipe, ao cumprimentar a Princesa Isabel, disse: “Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono”.


Mas a vida é assim mesmo, não é? Perdemos algo para conseguirmos outro. A Princesa perdeu o trono, no entanto ganhou seu nome na história. Nem todos têm o caráter de perder algo em beneficio do povo. Poucos são os que perdem muitos só querem ganhar, que se lixem os menos favorecidos.


Viva dia treze de maio.

Viva a Princesa Isabel.

Viva os negros que glorificaram e glorificam nossas páginas históricas.
Viva os negros de hoje e de sempre.

Viva a história do Brasil.

Viva o Brasil.


Pastorelli

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