quarta-feira, 22 de abril de 2015

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PRIVACIDADE: ON ou OFF



“Resta / único segredo / Não saber / Que todos conhecem / Nossos segredos”.
(Pedro Du Bois)


Atualmente, existe privacidade? Pergunto por que é cada vez mais comum as pessoas contarem seus segredos e intimidades nas redes sociais? Chego, a pensar, que a privacidade se tornou um valor ultrapassado, porque em tempo integral são postados as dores, as alegrias, opiniões, fatos e fotos da vida, sem constrangimentos. “Acabou o off escondido. Agora é tudo on”.
Na visão de Carmen Presotto, A diferença de outros tempos, é agora ter o aval social para reinar entre a tantos “chats”, pois se quebrou a barreira do tempo e do espaço para se chegar ao intransponível. “Hoje sem esforço ou cerimônia, qualquer um, a qualquer hora pode me encontrar em casa, estatelada em frente ao elefante branco”. A minha maior inquietação é a medida da exposição: o quanto e como. Segundo Pedro Du Bois, “... muitos habitam nossas imaginações // deles tiramos o que personalizamos de ruim ou pior // no que somos expostos”.
Reconheço que hoje, as pessoas se expõem no sentido de mostrar-se como algo a ser exibido e visto / mostrado nas telas, com o objetivo de desvelar suas vidas. Acredito que nesse sentido, as redes sociais mudam o significado da palavra “privacidade”, dando outro valor ao postarem em detalhes suas vidas.
Minha dúvida é sobre os valores transmitidos a serem resguardados, não mais existem? Dignidade? Fidelidade? Pudor e respeito pelo próximo? Resta algum caminho ou sentido? E os momentos de intimidade, que acreditamos gerar confiança mútua, ainda somos capazes de guardar essas experiências e emoções em nossos corações? Ou sentimo-nos tão sós, que necessitamos compartilhar com as pessoas na rede social? Mas, o que lucramos e o que perdemos? Oscar Wilde escreveu, “Vivemos num tempo em que as coisas / desnecessárias são as nossas únicas / necessidades. // Hoje, sabemos o preço de tudo e o / valor de nada”.
Penso nisso e tenho a preocupação com as atitudes das pessoas; com a segurança da família; com a ilusão de ser real a mentira confundindo a verdade. Tudo acontece muito rápido e não temos como nos arrepender disto ou daquilo, porque não há como voltar atrás. Afinal, tudo funciona como extensão da mente, quando os momentos de plenitude parecem estar certos, e ao mesmo tempo, pode acontecer o pior eles estarem errados e distantes – parece ser apenas uma chance para teclarem o que desejam transmitir, fazendo de conta que tem o controle da situação. Como descreve Gilberto Cunha, “Não é de hoje que se fala muita “merda”. Mas parece que essa característica da sociedade contemporânea, indiscutivelmente, se acentuou com a democratização do acesso aos veículos de comunicação (com destaque para a Internet)...”
Na era da informação, o bom é ter cuidado para diferenciar ficção da realidade; verdade e mentira, porque se misturam e muitas vezes, a situação é invertida de acordo com os interesses pessoais. Ter a consciência sobre o que transmitir nas redes, porque o destino é desconhecido e não há como controlar o que é postado. Considerar autenticidade e transparência valores importantes. Ter uma visão crítica do conteúdo que recebemos e perceber quais os relacionamentos estabelecidos são superficiais. Além disso, a vivência “virtual” é um dos passatempos, do qual, nem sempre, podemos acreditar no que aparece na conexão. Não esqueçamos “nem tudo que reluz é ouro”, já diziam os antigos. Elbanice Vargas revela, “Criam-se situações pelo fato de terceiros invadirem a privacidade alheia com o intuito de interferir”.
É interessante descobrir o que somos capazes de carregar para nos fortalecer. O fato é decidir o que realmente importa: privacidade on ou off? Então, poderemos perceber uma nova maneira de ver a vida e rever os princípios ao manter a coerência entre os discursos e as atitudes, porque (ainda) existem valores há serem preservados.
A privacidade não tem bula, nem manual de instrução, apenas o desejo de tê-la ou não; o querê-la on ou off, nas telas da vida.


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