sábado, 8 de agosto de 2015

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Pequenas histórias 158

Encolhido no cobertor Encolhido no cobertor sujo de suores fétidos dormia sossegado em pleno meio dia ensolarado com uma temperatura baixa fazendo-o se enrolar mais ainda no pano sujo. Depois de muito andar encontrara aquele cantinho que o protegia do vento. Nisso sentiu um pé cutucando-o incessantemente. Precisava dormir enganar a fome que comia suas entranhas. Quantos dias estava sem comer? Não tinha noção, não sabia. O frio penetrava entre as fibras do cobertor nauseabundo ferindo a carne magra. Virou o corpo tentando fugir do pé cutucando-o. Não adiantou, o maldito continuava. Merda! Não há sossego nesta terra de cimento e lágrimas! Enfiou a cabeça debaixo do cobertor expondo o nariz ao fedorento cheiro de urina. Caralho será que não entendem que precisava somente dormir! Por que não me esquecem neste canto da vida emparedado na fria realidade da carne nua. - Ei! Cara vai ficar muito tempo deitado nesse frio? Não distinguiu o som que parecia vinha de longe de lugares estranhos. - Ahn! Que foi? – perguntou arrastando a voz pelo sono do álcool. Apertando o olho com uma das mãos, viu a sua frente o segurança, sujeito grande, corpulento, terno preto, óculos escuros, voz forte mandona. - O vagabundo, vai levantar daí. Chispa, aqui não é lugar para mendigo, não! Enquanto falava cutucava violentamente o pobre do homem que, levantando devagar, pois não tinha pressa, pegou os seus preciosos trapos. Olhou feio para o segurança que apenas cumpria ordem. Sabia disso, como sabia que o segurança estava vexado por estar fazendo o que, talvez, não quisesse fazer. Sentia olhos que observavam e retrucavam o seu procedimento. Realmente não queria. Ao receber a ordem, quis recusar, mas pensou: se eu for demitido? Como arrumar outro emprego e, até posso acabar como esse aí, e isso não queria, tinha mulher e filhos para sustentar. Portanto teve que executar a ordem e, também, ali não era lugar para vagabundo nenhum dormir. Paciente, esperou o mendigo pegar suas coisas, sob os olhares dos transeuntes curiosos. Assim que o pobre coitado recolheu seus poucos pertences, calmamente trôpego se pôs a caminhar. O segurança concluiu que fora melhor assim. Já estava se dirigindo ao prédio quanto o mendigo gritou: - Oh, meu, escuta, desejo que você seja feliz, - e lançou um sorriso de luz ao segurança. pastorelli

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