BuscO as pequenas cOntas de minha cOrrente
partida. Ainda vejO O reflexO dela num espelhO antigO, que afeiçOadO sObremaneira
à imagem de sua pOesia, sOube apreende-la pOr inteirO. Ele serve de mapa, um
guia para a sua cOmpleiçãO. Nele eu cOntemplO a sua fOrma inversa, aquela
grafada em luz na película sensível, que é a memÓria dOutrO tempO. As cOntas
esféricas de minha cOrrente radiante espalharam-se pOr tOda a Terra. Eu prOcurO
pOr algumas delas na face pacífica de um lagO, mas temO que estas pOssam ter
submergidO, tendO sidO devOradas, enfim, pOr cavalOs-marinhOs. Outras eu as imaginO
sObre Os picOs de cOrdilheiras cOngelantes, de alturas inimagináveis, tãO
agudas e desafiadOras quantO O impOssível. Lá, talvez, nãO cOnsiga revê-las
pela pura e simples incapacidade de minhas vistas em discernir-lhes Os alvOs cOntOrnOs
àquele da superfície nevada. E assim, de cOnta em cOnta, defendO-me cOmO pOssO
de sua ausência. MastigO demOradamente O alimentO, cOm medO de me deparar cOm
uma delas em meiO às garfadas, quebrar Os dentes, Ou O que seria ainda piOr:
danificar-lhe de fOrma definitiva pOr falta de atençãO Ou (OutrO) descuidO meu.
Os dias passam e, na raiz das hOras, reside a essência de tOdO O prOblema. A
verdade é que cOntemplO a minha cOrrente nO instante efêmerO dO mOvimentO de
uma nuvem, antes dO ventO dissipar-lhe a fOrma. Sei que agOra habita tOdO O
espaçO. Desde O cúmulO da existência até as partículas elementares agitam-se nO
encadeamentO dOs seus encantOs. Minha cOrrente é cada um dOs astrOs nO céu, Onde
nele se destaca O brilhO de Vênus, lOgO após O pOente. NãO, ela nãO me
pertence, nem nunca pertenceu, mas respiramOs desse mesmO fluidO, que a tudO
abraça e acalenta. E, na sua cOmpletude, sOmOs um sÓ cOmO Os versOs de um
singelO pOema.
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