domingo, 27 de setembro de 2015

0

SÔNIA PILLON - BIENVENIDA A URUGUAY - PARTE 2


Um dos pontos turísticos mais procurados de Montevideo é o Mercado del Puerto, com seus restaurantes especializados em carnes, assadas em fornos à lenha, muitas vezes à vista dos consumidores. Também há cardápios à base de frutos do mar, com acompanhamento parcial (as saladas são cobradas à parte). Um bife à milanesa com fritas e uma lata de cerveja pode custar o correspondente a R$ 50, na conversão em pesos uruguaios.

Uma das estratégias para atrair clientes, utilizada por um dos restaurantes, foi a contratação de casal de dançarinos de tango, que dançavam junto às mesas localizadas na parte eterna, em plena Calle Piedras com a Perez Castellano. Eles também se revezavam em convidar os passantes para arriscarem passos de tango.

Camisetas, roupas, acessórios, suvenirs. Não faltam lojas no entorno do porto, que se manteve lotado no Feriadão de 7 de Setembro. Mesmo quando tentavam se comunicar em “portunhol”, os brasileiros eram descobertos, até pela maneira diferente de se vestirem, e as respostas vinham em Português... Funcionários dos restaurantes e demais estabelecimentos comerciais abordavam insistentemente os brasileiros, na saída dos restaurantes. Também não faltavam artistas de rua,  andarilhos e pedintes no entorno.

Andando pelas calles
da Ciudad Vieja

Em dado momento, quando parte dos integrantes da excursão se dispersou, uma parte decidiu pelo City Tour rodoviário e eu decidi retornar para o Hotel New Arapey, onde o grupo estava hospedado. Parecia uma tarefa simples: retornar pela calle Perez Castellano e depois subir uma das ruas transversais pelo lado esquerdo que logo estaria lá. Seria, se eu não tivesse errado a rua onde entrar... De repente, comecei a me deparar com o lado obscuro da Ciudad Vieja. Perdi a conta das quadras que andei. Parecia um filme sobre o submundo. Só que não era ficção.

Apertava o passo e ia segui um casal à minha frente. Quando os abordei e perguntei sobre o hotel, me disseram que eram alemães, com forte sotaque, olharam um mapa turístico e me garantiram que a calle Uruguai ficava “quatro quadras acima”. Comecei a subir e a olhar para trás, para ver se não era seguida, eorar na minha crença, torcendo para que não desconfiassem que ali estava uma estrangeira. Ouço assobios e aperto o passo, repetindo um mantra em voz baixa.

Ângela, a guardiã

De repente, chego à rua indicada, mas não era a calle Uruguai. Felizmente, encontro bem na esquina uma policial feminina e me dirijo a ela, relato toda a minha história. Sensibilizada, decide me acompanhar até o hotel. Conta que seu nome é Ângela Pedrozo, de Artigas. Andamos uma quadra e ela bate na porta de um prédio gradeado, antigo. Olho a placa: Centro de Rehabilitacion. Ela me conta que há dois anos trabalha no cárcere de menores. Pergunto a ela como está trabalhar, após a liberação da maconha no país, e ela opina que ficou muito pior, porque há muito mais dependentes químicos: “isso dificulta o nosso trabalho”.

Enquanto passamos pela parte “histórica” da cidade, constato que, se estivesse andando por ali sozinha, correria sério risco e digo isso a ela. Finalmente alcançamos a rua e o hotel. Profundamente agradecida, a abraço e ofereço uma das maças da minha sacola, compradas na feira livre, antes do almoço no Mercado del Puerto. “Não sei o que seria de mim”, afirmo. Ângela, palavra que vem do grego, significa “mensageira”, “anjo”. Realmente, não poderia haver nome mais apropriado...

Empurro a porta do Hotel e uma sensação de alívio e proteção me invade. Por outro lado, agradeço por conhecer o “outro lado da moeda”, que com certeza as agências de turismo jamais mostrariam.
Passo a reparar ainda mais nos detalhes arquitetônicos do prédio, de 1920, que à época, ao que tudo indica tinha um apartamento por andar. Segundo o proprietário, Frank Fernandez, 43, desde 1978 seu pai o comprou e o adaptou para servir de hotel.

Chegou a manhã do dia 7  de setembro, feriado da Independência no Brasil, hora de pegar a mochila e embarcar no ônibus de volta a Porto Alegre. Depois, retorno para Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina. Sem dúvida, foi uma viagem marcante e inesquecível que espero repetir. E recomendo.

* Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre e radicada em Jaraguá do Sul (SC). É membro imortal da Academia de Letras do Brasil (ALBSC) Seccional Jaraguá do Sul. Foto: Acervo pessoal Sônia Pillon

Seja o primeiro a comentar: