O relógio
marcava em torno de sete horas quando o ônibus fretado pela agência de
“aventurismo” de Porto Alegre adentrou no território uruguaio, na ensolarada
manhã de 5 de setembro de 2015. Eu estava chochilando na segunda fila do andar
de cima do veículo quando abri os olhos e comecei a ver a planície do pampa
uruguaio. Nas haciendas (fazendas),
várias cabeças de gado bovino se mantinham espalhadas pelo pasto. Parte da
grama se encontrava seca, castigada pelas sucessivas geadas. À medida que o sol
começa a ficar mais forte e o veículo avança, matas de eucaliptos se tornam
mais visíveis e o número de outdoors à margem da rodovia vai aumentando.
Inevitavelmente,
fico procurando semelhanças e diferenças com o Uruguai que encontrei pela
primeira vez, há exatos 30 anos, quando viajei ao vizinho país ao lado de minha
mãe. Lembro que naquela ocasião, me chamou a atenção o número de carros antigos
(para não dizer sucateados) que circulavam pelas ruas, uma situação que parece
não ter mudado muito de lá para cá. Com a economia combalida, os contrastes
sociais se evidenciam, principalmente se o visitante fugir um pouco dos
roteiros turísticos tradicionais “para inglês ver”.
São dois
mundos que convivem em um mesmo espaço territorial. Punta del apresenta um
Uruguai “dos ricos”, com suas mansões, edifícios de alto padrão e embarcações
de luxo, ao porto. Um dos pontos turísticos mais visitados é o monumento “Los
Dedos”, parada obrigatória para quem chega ao balneário, que pertence à
Intendência de Maldonado. Já em Montevideo a opulência e a pobreza convivem
lado a lado. A mendicância dos excluídos é encontrada em todo o canto,
especialmente na Ciudad Vieja e nos
arredores do porto, em meio a prédios em ruínas e à aparência de abandono das
ruas.
Porém, mesmo
com seus problemas, o Uruguai mantém uma certa “decadência charmosa”, que segue
encantando os turistas e por isso é considerado um dos roteiros mais procurados
da América do Sul, pela arquitetura, gastronomia e simpatia de seu povo.
Caminhar
pelas ruas centrais de Montevideo é se surprender em cada rua, em cada esquina.
Impregnada de História, a cidade impressiona com seus monumentos (a maioria
dedicados aos heróis nacionais, como José Artigas e figuras clássicas da Mitologia
Grega), praças e edificações imponentes. Apresenta semelhanças com a capital
gaúcha, Porto Alegre, no extremo Sul do Brasil. Aliás, gaúchos são considerados
também os uruguaios e argentinos, com seus costumes e hábitos semelhantes,
relacionados à criação de gado e ao consumo do chimarrão. Em se
tratando da erva-mate, chama a atenção o grande número de pessoas que passeiam
pelas ruas com o chimarrão e a garrafa térmica com a água quente, pronto para
ser degustado em qualquer hora e lugar.
No domingo
de 6 de setembro, véspera do Feriado da Independência, no Brasil, não por
acaso, a cidade parecia ter sido “invadida” por brasileiros, que se espalhavam
pelas lojas, feira livre e restaurantes. Na extensa calle 18 de Julio, onde se concentra um grande número de lojas,
griffes de marcas famosas são encontradas a preços bastante “salgados”, de até
três vezes mais caros do que os praticados no Brasil.
Em meio à
caminhada, destaque para a estátua metálica que reproduz o saudoso cantor
Carlos Gardel, junto a um Café, e a Fonte dos Cadeados, onde os casais
apaixonados fazem pedidos prendendo um cadeado com seus nomes gravados. Outro
ponto é a Plaza de los 33 presta uma homenagem aos heróis que forjaram a
Independência do Uruguai.
Como toda a
Feira Livre de domingo, a de Montevideo é variada: desde frutas, alimentos
feitos na hora, artesanato, animais exóticos, antiguidades e artigos para
colecionadores, como discos de vinil, livros e revistas. É preciso bater perna e gastar a sola de
sapato por horas para percorrer todas as barracas, porquea feira se estende por
várias ruas que cortam a 18 de Julio. Ali se encontra de tudo, inclusive
panelas quebradas e louças lascadas...
Outro fator
que chama a atenção: o péssimo estado de conservação de alguns veículos
utilizados pelos feirantes (caminhões e caminhonetes usados no transporte das
mercadorias), que com certeza não poderiam circular pelas ruas brasileiras sem
serem apreendidos, e seus donos multados.
Decido comprar
uma bolsa de lã colorida confeccionada por indígenas uruguaios, ao preço de 250
pesos uruguaios (cada peso uruguaio correspondeu a R$ 0,14.5, pela conversão
que fiz em uma casa de câmbio em Porto Alegre). Mais adiante, compro cinco
maçãs: 30 pesos uruguaios. De maneira geral, a alimentação é cara: uma refeição
pode variar de 200 a 500 pesos, dependendo do que o onde é consumida. Portanto,
é bom estar preparado, caso decida colocar o Uruguai em seu roteiro
sulamericano.
* Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre e radicada em Jaraguá do Sul (SC). É membro imortal da Academia de Letras do Brasil (ALBSC) Seccional Jaraguá do Sul. Foto: Acervo pessoal Sônia Pillon
* Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre e radicada em Jaraguá do Sul (SC). É membro imortal da Academia de Letras do Brasil (ALBSC) Seccional Jaraguá do Sul. Foto: Acervo pessoal Sônia Pillon
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