Com suas ideias
Com suas ideias revolucionárias, ele movimenta moléculas no espaço que ocupa. Não, não é isso o que queria escrever, não dessa maneira crua, sem poesia. Queria escrever sem pudor. Queria escrever despojado do que estivesse sentindo, escrever sem que o sorriso invadisse o plano da linha horizontal. Deveria ser um escrever longo, comprido como a câmara focaliza o horizonte num amplo ângulo só. E na solidão do espaço dissesse tudo o que tinha para dizer.
Um escrever na linha melódica do tempo carregando-o longe dos problemas. Um escrever sem símbolos, sem metáforas, sem silogismos, sem preposições. Ter no peito a singeleza das palavras como às palavras são. Simplesmente palavras. Palavras intensas no fogo da paixão consumindo palavras silenciosas. Nesse quieto silencio encontrar-se consigo mesmo, sem interferência nenhuma. Seguir, aliás, era o que fazia não desistir, seguir; seguir a música vinte e quatro horas. A música, alimento para sustentar a carne nos ossos que, volta e meia, despregava molemente abalando os nervos.
E como o sangue, os nervos pulsam freneticamente revelando-o a vida que ele tem e não deveria nunca – não gosta dessa palavra – deixar que ela o domine. Tem que conviver com a vida, seja intensa, prosaica, moderada, medíocre, fútil, e outros itens que não conseguia verbalizar. Tem que conviver com a vida para não cair no limite do suicídio e engolir palavras indesejadas.
E como o sangue, os nervos pulsam freneticamente revelando-o a vida que ele tem e não deveria nunca – não gosta dessa palavra – deixar que ela o domine. Tem que conviver com a vida, seja intensa, prosaica, moderada, medíocre, fútil, e outros itens que não conseguia verbalizar. Tem que conviver com a vida para não cair no limite do suicídio e engolir palavras indesejadas.
Sendo organizado, às vezes se perdia no emaranhado das palavras. Não se desesperava. Aprendeu que o desespero traz problemas nunca soluções.
O que podia fazer era ler. Pegou o primeiro livro, o que estava em cima da pilha e, foi então que notou: estava com a leitura atrasada. Pois a pilha aumentava assustadoramente.
Pegou o grosso. O livro de capa verde, edição de 1949, Os Parasitas, de Daphine Du Maurier. Não se lembrava de ter lido algo dela. O que lhe vinha à memória era um trecho, só não sabia qual o romance ou fora um conto. A personagem principal ao passar por um mendigo deposita em suas mãos uma nota de valor grande e, por causa desse gesto, o mendigo é assassinado por outro mendigo que lhe rouba a nota. Essa cena ficou marcado em sua mente. Não sabia de que romance era. Além do que, dois romances dela foram adaptados para as telas pelo mestre do suspense: Hitchcock, um, considerado obra-prima: Os Pássaros, e o outro, Rebeca - Mulher Inesquecível.
Portanto, como sempre acontecia se embrenhava na história a ponto de se integrar ao personagem, seja ele feminino ou masculino, sentindo nos nervos a solidez da carne psicologicamente como se fosse ele. Perdia-se no meandro arquitetamente planejado pela escritora. Desenvolvia as cenas minuciosamente como se fosse suas cenas, como se fosse ele que dirigia, que criava as minúcias do romance dando o encanto que prendia o leitor.
Portanto, como sempre acontecia se embrenhava na história a ponto de se integrar ao personagem, seja ele feminino ou masculino, sentindo nos nervos a solidez da carne psicologicamente como se fosse ele. Perdia-se no meandro arquitetamente planejado pela escritora. Desenvolvia as cenas minuciosamente como se fosse suas cenas, como se fosse ele que dirigia, que criava as minúcias do romance dando o encanto que prendia o leitor.
Essa sensação de poder, de sentir-se quase um Deus, terminava quando virava a última página do livro.
pastorelli
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