quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

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A lucidez lírica de W. J. SOLHA



“...Que diabo sabe do futuro, / se há / diante dele, / um muro?...”

Quem se interessa pela literatura e cultura, não deve deixar de ler o livro A Engenhosa Tragédia De Dulcineia e Trancoso de W. J. Solha. De maneira direta, ele registra em poesia a vida como um dos grandes palcos da cultura.

“...Nada vale que se derrame sangue, / seja tudo verdade ou ficção, /
sistema binário ou não. / O importante é a vida, esse é o fato, /
pois sem ela não existe nenhum ato / e, / sem ato, / Evolução”.

Afirmo que exploração é a palavra que descreve melhor os poemas em que o autor mostra uma série de imagens e registros para compartilhar com o leitor, dando a sensação de estar conectado na construção das palavras e entrelaçado como espectador.

“... Porque um poeta assim se desdobra, / se há o cinema dando ao poema a impressão de que / sobra? // MAS / ...pra quê ator, / contato, / se há o leitor?...”

Para Solha, a poesia permite que a história seja contada de forma a se sobrepor aos conceitos. Essa linguagem é a interação da obra, em grau máximo de voltagem simbólica na encenação.

“... - Porque “A Engenhosa Tragédia De Dulcineia e Trancoso” / e não
“Trancoso e Bozo”, / se o gancho, aqui, é a epopeia de Quixote ...e Sancho?...”

O autor extrapola muros onde a ideia abrange e espelha atrações e estilos, mas sempre buscando a máxima expressão do que chamo de “puro talento” – traz o símbolo da exclusividade, tornando metáfora do confronto histórico como palco da vida.

“O Homem é a experiência em evolução impulsiva, /
que é explosiva e esquiva, / é reflexiva / e ativa”.

Solha transforma o livro em um mundo de significados que se articulam no jeito de ser e pensar, sempre acreditando em cada detalhe e em cada palavra na busca pela arte, como motivo para reescrever as “cenas” do dia a dia. Ele vai muito além das fronteiras, que dividem a imaginação ao revelar traços de tempos imemoriais, onde se percebe uma total comunhão com as artes ao espalhar uma textura “lisa” que expressa a sua ideia. Com isso, nota-se o desejo de retratar imagens instantâneas da sensibilidade, num conceito “ideia não tem peso” tem caráter expositivo, filosófico e argumentativo, que resultam poemas originais que ganham alcance da “graça”.


“Assim, / a terra parece real, / mas o céu, / parece que não. / A vigília, / o dia, / parece real. / A noite e os sonhos, / não. / A janela é real. / A persiana, a cortina, / ficção. /
O chão é real, / o tapete, / não: / ficção. / O passo / é real, / a dança / não: / ficção. /
A fala é real, / o canto, / não: / ficção”.

Busco na literatura mudanças significativas e nesse sentido, encontra-se a obra de Solha que desperta na palavra ação e contraste, fazendo a diferença nos dias, porque é algo que revira por dentro, desencaixa e flui se conectando com a força geradora e dando liberdade para o leitor interpretar, de muitas maneiras, suas construções poéticas. E, assim o leitor descobre novos sentidos na literatura. É praticamente impossível ler “A Engenhosa Tragédia De Dulcineia e Trancoso” e não perceber a lucidez lírica em Solha, demonstrada através do seu estilo, conhecimento e competência, que o personaliza pela busca de ampliar os limites do possível nas cenas da vida e transforma o livro em um espetáculo, onde o leitor é o espectador.

“... – mas não me espanta que volte a trilha santa, / quando se esvazia a utopia, /
após banhos de sangue... de revoluções...cometidas por tantos...
varões assinalados, / como disse / Camões”.






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