“A literatura é uma defesa contra as ofensas
da vida.” Cesare Pavese
Este breve artigo trata do excelente romance As
Fantasias Eletivas, de Carlos Henrique Schroeder, lançado pela Editora Record,
Rio de Janeiro, 2014.
Carlos Henrique Schroeder é natural de Trombudo
Central (SC), onde nasceu no ano de 1975. Ele estreou na literatura em 1998 com
a novela O publicitário do diabo (Manjar de Letras), e de lá para cá lançou
quase uma dezena de livros. O seu gênero literário é o pós-modernismo. Sua
coletânea de contos As Certezas e as Palavras (Editora da Casa) recebeu o
Prêmio Clarice Lispector de contos da Fundação Biblioteca Nacional.
Este texto não é propriamente um artigo,
sendo mais precisamente uma seleção de minhas passagens prediletas colecionadas
ao longo da leitura atenta de As Fantasias Eletivas.
Deus me perdoe por esta minha obsessão pela síntese
e a carnificina operada sobre tão valiosa obra. (De antemão, o leitor deste
texto se considere avisado quanto ao spoiler).
Se Você ler o romance: f0r7un4
Se Você ler este artigo e também o romance:
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Se Você ler apenas este artigo: 50r73
Se Você não ler o romance e nem mesmo este
artigo: 1nf0r7un10
Quando se entregou para o mar, nem as ondas o
quiseram.
Mas ela me fala coisas maravilhosas, de
quando dançava, e eu adoro mulheres que dançam, e ela me conta como foi uma
estudante aplicada, e que é ciumenta.
Num daqueles domingos em que as pessoas são
geralmente felizes, antes de começar o Fantástico.
“Como a lua está linda hoje, né?!”, disse
ela.
“Pois então, a lua sempre parece mais bonita
aqui na praia, não é?”
Mas isso já faz dois anos, e trabalhar no
turno da noite mostrou-lhe um caminho diferente, nem melhor, nem pior, mas um
caminho.
Os últimos contatos de Renê com o filho foram
quando Léo tinha três anos.
Renê tinha esperança de que um dia Léo
soubesse diferenciar passado, presente e futuro, e o perdoasse.
Você está viajando porque quer ser feliz por
uns momentos ou quer fingir ser feliz por uns momentos ou quer mostrar para os
outros que pode ser feliz por uns momentos.
E, por fim, a coragem de fazer o que achava
que devia fazer.
Enquanto Copi, sofregamente, segurava o pincel,
dois raciocínios a assustavam: o primeiro era de que havia muita palavra no
mundo, muito mais do que gente. E o segundo de que o que nos liga ao passado, a
memória (que rege essas inúmeras fantasias eletivas que chamamos de lembranças)
empalidece ao sinal do primeiro desejo.
Renê estava naquele estágio entre a
irrealidade e a incredulidade, como se aquilo não fosse com ele, mas sim com
qualquer espectador passivo, como se estivesse assistindo a um filme ruim.
Era uma maneira de descobrir algo mais, ver
seu rosto, mas com certeza ela estava vacinada contra estranhos, com a máxima
‘nunca fale com estranhos’. E, como gosto de imaginar o futuro das pessoas, enquanto
continuava minha caminhada, tentei imaginar o futuro dessa menina sem rosto,
sem voz.
Músicas incidentais:
Just (Radiohead)
Luck (Radiohead)
Karma Police (Radiohead)
No Surprises (Radiohead)
Paranoid Android (Radiohead)
Idioteque (Radiohead)
The Bends (Radiohead)
“Não Ratón, você é burro, mas tem bom
coração, o que é melhor do que ser esperto e sacana...”
“Quietinho, Ratón, quietinho, só escute,
apenas escute, está tão difícil as pessoas escutarem...”
“E isso torna a fotografia mais humana ainda,
pois ela nasce de um desejo humano de se reproduzir enquanto imagem, de
permanecer.”
“O que me move para a fotografia são as
similaridades com a literatura. A fotografia quer congelar um instante, e a
literatura, recriá-lo, e ambas têm essa capacidade de permitir uma outra visão
das coisas.”
Dentre todas as solidões, a do nocaute é a
mais dilacerante. A Bíblia é clara ao dizer que para cada homem haverá um
nocaute.
E quando Goethe, cego, no leito de morte,
gritou “Luz, luz”, na verdade imaginava um ginásio vazio.
...chegam ao Brasil (terra de fanfarrões,
onde ninguém leva nada a sério, nem mesmo coisas importantes como a cerveja)...
Alguns minutos antes, ela existia em partes
independentes, a seda de um lado, o fumo de outro,... estimuladas por mãos
ágeis, nasce por fim o baseado, este suporte da imaginação.
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