quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

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BRANCO: colorindo a palavra



Branco “é a junção de todas as cores do espectro de cores. Também é definido como ”a cor da luz” ou a que reflete todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum e por isso aparecendo como clareza máxima” - segundo a Enciclopédia Livre.
Um aspecto marcante na palavra branco é a atenção dada pelos escritores, enquanto elemento significante à sua finitude: a cor. Bom exemplo são os poetas que veem assim, como Carmen Presotto, “...Quando a noite cai / ...aninho-me em brancos papéis / e voo meus sonhos / até o ponto final.”, e Augusto Branco, “Teu mundo é espelho de você...”.
O branco é o espelho da nossa multiplicidade ao colorir a palavra. É beleza misteriosa que vira a página. Sempre há desenhos e palavras para colocar na folha em branco: chamo de beleza literária porque existe cumplicidade para com os escritores, tipo dia e noite que se completam. Eles desenham traços fortes com criatividade ao mostrar a face da poesia, superando o efeito da lógica, como em Jorge Tufic, “Ainda que seja / é bom repeti-la: / a página em branco. /...O branco ainda não fatigado / E as palavras imersas...”
A palavra branco revela inclinação ao dizer ao mundo que o prazer está em ver e saber o que a cor representa: paz, pureza, ordem e outras conotações positivas que, por vezes, rompem o padrão da monotonia, quando questionam nossas verdades, nossas cores. Nas palavras de Carmen Presotto, “...Retratos brancos no preto / sem riscos coloridos / não produziriam arco-íris...// Tudo monotonia.”
Quando o branco se torna realidade, busco a paisagem, que me inspira sonhos coloridos, como encontro em Paulo Leminski, “furo a parede branca / para que a lua entre... / frouxa no meu sonho.”
O branco não é arrogante e nem influenciável, ele é convergência de cores. Age diante do contraste, sendo o contraponto que revela atitudes. É a vida descomplicada, como no Livro Branco, de Millôr Fernandes, ou no Blanco de Octávio Paz, transcriado por Haroldo de Campos, sob o título Transblanco, em homenagem ao octogésimo aniversário de Octávio Paz, em 1994.
O branco domina os extremos e sua beleza transparece como véu de noiva em cascata que avança na correnteza de versos; o momento em que o branco dá luz aos poetas que passeiam pelos labirintos da minha mente. Nas palavras de Benedito C. Silva, “No branco gélido / da luz do teu olhar, / escondes as cores / Pelos amores, /Que um dia tiveste”; e, em Antônio C. Osório que, no livro O Desafio do Branco, constrói a saga do homem:” as sombras da alienação humana, ou das verdades...”, texto que inspirou as ilustrações de Siron Franco.
Ao admitir que os poetas desenham palavras, como luz num caminho escuro, tenho a iluminação como descoberta, no sentido de ir ao encontro da inspiração. O maior desafio, certamente, é deixar que o branco se instale na minha vida, como em Paulo Leminski, “... nunca houve isso, / uma página em branco. / No fundo todas gritam, pálidas de tanto.”

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