quarta-feira, 27 de julho de 2016

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Pequenas histórias 233

Fere o grito


Fere o grito a garganta retalhando os fatos em pequenos instantes.
O sangue mancha o bisturi, enlameia a carne aberta, revela a podridão das células.
Chora o peregrino nos escombros dos viadutos fugindo da piedade falsa dos seus semelhantes.
O sol aquece índios, ocas, matas, civilização, cidade, palacetes, edifícios, ladrões, ricos e pobres e, desnuda a face oculta da morte.
Parado na plataforma, o negror dos trilhos chama-o para compartilhar o vazio do abismo.
Tolo, segue contra a correnteza da razão ferindo-se na margem do rio sem se preocupar com a paixão.
Gira a cabeça num sentido único e deposita o olhar num relance inequívoco da vida e, realiza o seu mais nobre gesto.
Vira o corpo num ângulo perfeito se afastando da plataforma e, desconsiderando os olhares assustados que caiam sobre ele, sobe a escada rolante.
Ao sair da estação, ergue o rosto confiante na vida, no amor, na amizade e nele mesmo.
Oferece a face para receber gloriosamente o beijo do sol.


pastorelli

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