domingo, 16 de outubro de 2016

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ORELHA DO LIVRO "AFETOS", ESCRITA POR ESCOBAR FRANELAS.



Há convites para todo tipo de ação e reação: aqueles dos quais declinamos, outros para os quais não desviamos, mas civilizadamente omitimos um "não" que fica regurgitando quase à saída da boca. Há outros, aos quais somos indiferentes. Há também aqueles que vêm no imperativo, e até aceitamos. E mais alguns, aceitos por acomodação. Finalmente, e especialmente, há aqueles que nos fazem sentir privilegiados. Quando o Fernando Rocha convidou-me para essa “orelhada” em seu novo livro - o terceiro! - pensei cá com meus botões, “caramba, como é que pode? um cara que admiro demais me convidando para apresentar um trabalho seu!” Ponderei o perigo à vista, mas o ego inflou e perigosamente sem freios, aceitei de pronto o desafio. Pronto! Dei sinal verde pro cara e prontamente recebi Afetos, um compêndio de textos seus espalhados pelos sítios virtuais, com os quais Fernando contribui regularmente e que agora ele recolhe, ordena e oferece a nós. Ávido, adentrei novamente o universo do autor. O primeiro sinal que noto logo no início da leitura é a solaridade de suas crônicas-quase-ensaios: O calor que incomoda um pouco e nos lembra de que ainda somos humanos e mais do que ideias, palavras, ou qualquer forma de arte, faz renascer em nós a obra finita do corpo-coisa-incômoda., solfeja em A Máquina de Escrever Escritores. Tendo lido os seus livros anteriores, Sujeito Sem Verbo e Os Laços da Fita, que traziam um boa dose de silêncios, sombras e tons evanescentes, noto de cara neste Afetos que sua marca pessoal continua lá, intacta. O movimento da sístole/diástole existencial continua em pressão baixa. O livro, todavia, cria, recria, acolhe, cuida e reflete a palavra. A palavra como solo, corpo, sujeito, objeto, linguagem e metalinguagem. E a linguagem - “bolo grande demais”, numa metáfora feliz do bróder Daniel Lopes logo na epígrafe introdutória - dialoga o tempo todo com o paradoxo, a língua transformada em linguagem só produz barulho sem significação; e a floração: Como saber que se chegou ao fim da linha, se não há marcas indicando o local? Dividido em pequenas e generosas poções - blocos denominados Os Dentes de Cronos, Coisas de Criança, Províncias Flutuantes, Espasmos e Contrações e Anunciação - Fernando Rocha faz um apanhado de sua arquitetura literária, estabelecendo a catarse, a sublimação e o espanto. Esta é a beleza do afeto, Frua-a!


Escobar Franelas é escritor, videomaker, coordenador cultural da Casa Amarela. 

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