Há convites para todo tipo de ação e reação:
aqueles dos quais declinamos, outros para os quais não desviamos, mas
civilizadamente omitimos um "não" que fica regurgitando quase à saída
da boca. Há outros, aos quais somos indiferentes. Há também aqueles que vêm no
imperativo, e até aceitamos. E mais alguns, aceitos por acomodação. Finalmente,
e especialmente, há aqueles que nos fazem sentir privilegiados. Quando o
Fernando Rocha convidou-me para essa “orelhada” em seu novo livro - o terceiro!
- pensei cá com meus botões, “caramba, como é que pode? um cara que admiro
demais me convidando para apresentar um trabalho seu!” Ponderei o perigo à vista,
mas o ego inflou e perigosamente sem freios, aceitei de pronto o desafio.
Pronto! Dei sinal verde pro cara e prontamente recebi Afetos, um compêndio de textos seus espalhados pelos sítios
virtuais, com os quais Fernando contribui regularmente e que agora ele recolhe,
ordena e oferece a nós. Ávido, adentrei novamente o universo do autor. O
primeiro sinal que noto logo no início da leitura é a solaridade de suas
crônicas-quase-ensaios: O calor que incomoda um pouco e nos lembra de que ainda somos humanos e
mais do que ideias, palavras, ou qualquer forma de arte, faz renascer em nós a
obra finita do corpo-coisa-incômoda., solfeja em A Máquina
de Escrever Escritores. Tendo
lido os seus livros anteriores, Sujeito
Sem Verbo e Os Laços da Fita, que traziam um boa dose de
silêncios, sombras e tons evanescentes, noto de cara neste Afetos que sua marca pessoal continua lá, intacta. O movimento da
sístole/diástole existencial continua em pressão baixa. O livro, todavia, cria,
recria, acolhe, cuida e reflete a palavra. A palavra como solo, corpo, sujeito,
objeto, linguagem e metalinguagem. E a linguagem - “bolo grande demais”, numa
metáfora feliz do bróder Daniel Lopes logo na epígrafe introdutória - dialoga o
tempo todo com o paradoxo, a língua
transformada em linguagem só produz barulho sem significação; e a floração:
Como saber que se chegou ao fim da linha,
se não há marcas indicando o local?
Dividido em pequenas e generosas poções - blocos denominados Os Dentes de Cronos, Coisas de Criança, Províncias Flutuantes, Espasmos e Contrações
e Anunciação - Fernando Rocha faz um
apanhado de sua arquitetura literária, estabelecendo a catarse, a sublimação e
o espanto. Esta é a beleza do afeto, Frua-a!
Escobar
Franelas é escritor, videomaker, coordenador cultural da Casa Amarela.
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