A
poesia de Akira é múltipla, se recusa a ficar presa em seu corpo, depois de
extraída do seu ser, busca o outro, seja juntando-se a música dos Cabras de
Baquirivu, banda responsável por musicar os poemas contidos em Oliveira blues, contando com a
participação de outros amigos do universo da música para a gravação do cd ao
vivo, quanto o teatro, por meio da encenação de Clóvis e Dedo mole, poemas híbridos de narrativa e verso interpretado
pelo coletivo Casa Amarela Encena.
Num
possível diálogo com a famosa quadra de Sá-Carneiro (Perdi-me dentro de mim/ Porque
era labirinto...), dentro de si pode não haver conforto, no poema Oliveira Blues 3, o fundador da estirpe
dos baitas, perambulando na geografia íntima escreve: não sou mais o mesmo/ agora moro mais longe/ na periferia de mim.
Ao
longo do livro, como nos chama a atenção o escritor João Caetano na
apresentação, há a presença da figura pássaro e seu voo, desde o primeiro verso
encontrado: voar aberto, contudo, outro espaço percorrido com as sensações
transformadas em palavras, é o da infância: -
quem assobia, akira/ não come semente, alquimia que transforma a dura lição
paterna em verso.
No caminhar cronológico interno da obra,
encontramos em 1960, uma lição biográfica na feitura do poema, tendo o plantio
da melancia e sua colheita, como metáfora: todos
os dias eu perguntava a ele (pai) se
a minha melancia já estava no ponto e todos os dias ele respondia que ainda
não, que estava verde ainda, que tenha paciência, akira, mas um dia não
aguentei mais a curiosidade e a gula e com um canivete afiado talhei a bitela
de cima a baixo...
Na
poesia de Akira, o corpo é folha e as datas, fatos e sensações gravam na pele,
como marca divisória de uma fratura no braço, que aponta a mudança no humor do
menino que perdeu a capacidade de sorrir. Num salto dentro do tempo, o menino
torna-se pai zeloso: filha, eu não quero/
que você caia e se machuque. Para o filho há: em alguma manhã/ dentro do seu sonho/ você corria sem dor/ e o seu
sorriso dormia/ nos meus braços.
Parece
que em alguns momentos, a poesia do homem que mescla um sorriso fácil com olhar
de menino, desconhece a palavra como signo que possibilita a comunicação direta
entre a sensibilidade do criador com o sentir do leitor: - era eu chorando alto/ em algum lugar bem fundo/ do silêncio de mim.
O
poeta está dentro do cotidiano, os cenários de suas criações não são frutos do
imaginário ou de uma observação distante, como o joalheiro esculpindo pedra
preciosa, este senhor de ascendência japonesa, esculpe poesia do simples que há
em nossos dias, flanando por cenários como botecos, padarias, ambientes de
comunhão na periferia, locais onde se conversa sobre temas como o jogo de baralho,
a partida de futebol, assuntos ressignificados, cumprindo um dos ideais de
Manuel Bandeira: restabelecer a beleza do cotidiano.
Há
artistas que têm sua obra ligada ao território onde residem, críticos dizem que
os cineastas Ingmar Bergman e Win Wenders, quando produziram filmes em países
estrangeiros, não conseguiram atingir os níveis de expressividade das obras
criadas em seus países de origem, Akira é o homem que conecta a sua
interioridade com o bairro onde vive, visceral, simples e direto como um acorde
do velho ritmo norte americano.
1 Comentário
Fernando, meu camarada, magnífica resenha... você foi fundo na alma do mestre Akira Yamasaki... Parabéns!
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