terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

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DIA FORA de HORA


Sento-me à beira mar, onde espelho o pensamento e, num piscar de olhos, vejo o dia fora de hora, pela janela da vida. Começo o dia falando do que vejo, do que une e do que me distingue entre as palavras: dos riscos e rabiscos. São artes que contemplo em ordens de grandeza; apenas, maneira de me concentrar e descontrair e, assim tornar o meu dia fora de hora, que contracena na maior parte do tempo com a intensidade do momento. Lia Luft retrata, “... minha mão procurava a sua no sofá para dizer que em nenhum momento me esquecia”.
O dia fora de hora traz os sentidos contraditórios da solidão; leva-me para longe do vazio, mesmo não intencional, mas diferencial. É movimento capaz de incendiar os sentidos, por que o afronto e a ele me entrego como fio de navalha.
A cumplicidade flagrada pela sedução das artes, que depuro em linhas de grandes encontros reais e desejados, como as marcas que encontro em Ivaldino Tasca e Renato Teixeira. Cruzam meu pensamento fossem arautos do dia fora de hora; espelho partilhado contido em semelhanças, referências e reverências às múltiplas artes, onde vejo o SER que se revela na caminhada como representantes das cores da vida: música e literatura.
Dia fora de hora é o encontro com a luz em suas variantes, o que me impressiona como delicadeza e grito que se cala no tempo que passa e que se anuncia na troca dos tons. Como expressa Luci Collin, “... Sobre a avenida de tinta/ ousamos passos crus, escorregamos, singela coreografia... // e às vidas de sobra”.
Dia fora de hora se desprende do que falta e do que sobra e me conduz ao livro A Leveza do Traço, de Pedro Du Bois, para fazer a diferença. Também, no escritor, artista plástico e dramaturgo, W.J.Solha, em quem o limite da arte é a linha do horizonte. Nas palavras de José M. Wisnik, “... as grandezas grandes e pequenas se entendem”. E, em Alice Ruiz, para quem “entre uma estrela / e um vagalume / o sol se põe”.
Digo que o dia fora de hora se torna significativo no vivenciar a maestria do peso e do tom de cada palavra em cada traço. Transforma o meu dia num enigma sem mistério, pela complexidade feita com a simplicidade do viver. Como o tempo que me envolve nas lembranças que vagam e acendem o meu viver, mas, não me torna mais sábia e sim mais curiosa: os sinos marcam meus passos. O vento carrega a minha voz. Na vida, tudo o que escolho e aprecio, retorna em palavras como as de Alice Ruiz, “pensar letras / sentir as palavras / a alma cheia de dedos”.

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