Uma
explicação metafórica do intercâmbio entre os mundos da criação e da
manifestação
Este
texto traz uma visão simples, conceitual e esquemática para a abordagem de um
assunto relativamente complexo, que é o estudo do intercâmbio entre inconsciente
e consciente, matéria de interesse especialmente da psicologia. Por tratar-se
de uma explicação metafórica, não tem ancoragem na bibliografia acadêmica,
devendo ser apreciada mais como imagem poética, exercício da criação de uma
pessoa simples interessada nas relações entre as criaturas – tanto nos seus
aspectos objetivos quanto subjetivos. Também não espere encontrar aqui nada
novo, coisa que nunca foi dita ou que vá se chocar contra àquilo que cada um de
nós traz (intuitivamente) dentro do peito. Apenas a roupagem é diferente. A
proposta deste texto é um exercício de simplicidade e poesia, reitero.
O
ponto de partida para essa nossa viagem é o símbolo tradicional do Yin-Yang, conforme
apresentado na Figura 1, uma imagem bidimensional (2d). É sabido que este
símbolo é a representação do eterno movimento, ou de permutas entre pólos
opostos de natureza dual; aqui representados pelo Yin (sombra, feminino, Lua,
reativo) e o Yang (luz, masculino, Sol, ativo). É interessante observar que o
pequeno círculo de sombra interior ao Yang remete a ideia de que o Yang nasce
do Yin e, vice-versa, o pequeno círculo de luz interior ao Yin remete a ideia
de que o Yin nasce do Yang. O símbolo como um todo, por sua vez, transmite a
ideia de movimento no sentido horário, sendo que a interface Yin-Yang é
representada por uma onda em progressão, também associada ao território da
manifestação, ao mundo dos sentidos, morada da dualidade, onde se dão as trocas
conscientes entre as criaturas.
Nossa
viagem prossegue pelo exercício da imaginação de um símbolo Yin-Yang 3d,
conforme apresentado na Figura 2. Esta transmutação do símbolo resulta numa
esfera. O Yang é como um vórtice ou redemoinho que gira no sentido
anti-horário, vindo do equador, e cujo epicentro está no pólo norte. No topo da
esfera, ou pólo norte, nós temos o ponto onde o Yang nasce do Yin.
Por
sua vez, no pólo sul, ou vale da esfera, temos o ponto onde o Yin nasce do
Yang. O Yin gira no sentido horário, num redemoinho ou vórtice, descendo do
equador em direção ao pólo sul (vale). E, nessa analogia geográfica com o nosso
pequeno planeta – a Terra –, vamos encontrar na zona tropical a região de
interface entre Yin e Yang. Uma região turbulenta, onde outros redemoinhos se
formam (eles são representados por quatro vórtices na Figura 2), como forma de
acomodar nesta área a interface entre Yin e Yang, onde naturalmente dá-se a
experiência entre estes pólos opostos.
Esta
representação idealizada da Figura 2 é a morada dos sentidos, o mundo exterior,
do qual estamos conscientes. Um mundo de múltiplas manifestações e criaturas
(identificadas pelos redemoinhos da Figura 2), onde impera a dualidade e
aprendemos (lentamente) uns com os outros através do atrito entre nossos egos,
que são as nossas interações no plano da matéria. Mas, assim como existe um
mundo exterior, há também um mundo interior, subjetivo, do qual muita vez não
nos damos conta.
Nossa
jornada prossegue através dessa nova abstração, que nada mais é que o lado de
dentro dessa mesma esfera. A Figura 3(a) revela o mundo interior, simbolizado pelo
interior da esfera, morada do inconsciente, de onde parte a intuição. Por
dentro, podemos observar dois redemoinhos (ou vórtices): Um redemoinho Yang que
parte do topo da esfera (pólo norte), gira no sentido anti-horário e desce em
direção ao centro – conforme representado na Figura 3(b). E o outro, um vórtice
Yin que parte do pólo sul (vale), roda no sentido horário e sobe em direção ao
centro – vide Figura 3(c).
Bem
no centro desse mundo interior, vamos encontrar um ponto onde estes dois
redemoinhos convergem: um ponto de quietude, imanente, não-dual. Este é aquele
ponto atribuído ao inconsciente coletivo, o que está a conectar todas as
criaturas do universo. Este ponto é a morada da criação, de onde resultam todos
os seres e as manifestações do mundo exterior.
Dessa
viagem pela geometria do Yin-Yang 3d podemos extrair algumas ideias e
interpretações poéticas. Ainda que elas não sejam de natureza científica, podem
nos ajudar através de nossa jornada nesse nosso pequeno planeta. Afinal, o que
é a vida terrena senão uma experiência transitória no mundo da manifestação,
cujo objetivo é o próprio aprendizado e a evolução? Então, aí vão algumas
ideias, e você tem todo o direito de concordar ou não com elas, afinal eu sou
apenas uma esfera, dentro da esfera da Terra, junta a bilhões de outras esferas
humanas.
Existem
esferas dentro de esferas. O número delas cresce infinitamente tanto
externamente quanto internamente a nós mesmos. Por exemplo: aquela esfera da Figura
2 pode ser imaginada como a esfera de uma família de quatro pessoas, onde cada
uma das pessoas é um daqueles quatro vórtices próximos a linha do equador.
Apesar
de vivermos (predominantemente) no mundo exterior – aquele da manifestação – e
realizarmos a troca de nossas experiências com todos os outros seres através
dos nossos cinco sentidos (o tato, o olfato, a visão, a audição e o paladar), devemos
estar atentos em fazê-lo de acordo, em consonância, com o nosso eu-interior –
que pode ser também chamado de inconsciente ou de super-ego. Sempre que nos
manifestamos em desacordo com a nossa intuição, isto resultará em divergências
que, por mais que tentemos dominar, em algum momento elas se exteriorizarão. E
quanto maior a tensão consciente / inconsciente, mais explosiva se dará a
manifestação. Não há como fugirmos de nós mesmos.
É
da moderação através dos pólos norte e sul, topo e vale, Yang e Yin – ambos ilustrados
nas Figuras 2 e 3 –, ou seja, das trocas constantes entre o mundo interior e o
mundo exterior, de uma espécie de afinação ou de sintonia entre eles, é que
conseguimos caminhar de forma equilibrada através do mundo da manifestação. A
criatura pode estar em meio a uma verdadeira batalha, e ainda assim sentir-se
em paz e feliz. Noutro extremo, a criatura pode estar na quietude de um
santuário, na melhor das companhias, com o coração aos solavancos, em meio a um
turbilhão de sentimentos conflitantes (a pronunciada separação entre consciente
e inconsciente). Em última instância, a vida é uma experiência do ser consigo
mesmo.
No
interior de cada criatura, bem no seu centro, está o espaço de quietude, o seu
lugar imanente, não-dual, onde todas as aparentes ambigüidades se acomodam. Outros
chamam este lugar de inconsciente coletivo. Este é o mundo da criação, origem
de todas as criaturas e as suas manifestações. Muita vez a criação dá-se de forma
inconsciente, noutras vezes sendo percebida como intuição. Mas existe um
sentido pré-estabelecido, e é sempre este: do mundo interno, aquele das ideias,
para o mundo externo, o da manifestação. Este é o trabalho, a tarefa da
existência aqui na Terra: perseguir essa senda, trazer do inconsciente para o
consciente, elevar a sua luz. Apenas os seres iluminados, aqueles que trabalham
do espaço imanente, em sintonia com o inconsciente coletivo, são aqueles
capazes de criar conscientemente a realidade.
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