Ferreira
Gullar pergunta, “o que está por detrás
da noite?” De fato, é uma questão complexa, que pode se tornar simples se
refletirmos com o coração, porque com certeza procuramos a luz na noite.
Buscamos a luz para aceitar a espera, como demonstra Pedro Du Bois, “A luz / o esperado encontro com a visão //...
avistado / iluminado / no instante exato / em que a razão / cede ao impulso...”
Entre
a luz e a alucinação colhemos a ausência do mistério nos desvãos das portas.
Nessa ausência esquecemos as estrelas que brilham sobre o mar e nos levam a aflorar
o silêncio da Lua, na procura pela luz. Alice Farias retrata, “sou parte / sou todo... // Não estou pronta
/ Procuro na luz / Me acho na sombra”.
Por
detrás da noite cintila a Lua mostrando a sua beleza ao se envolver com o vento
que ao deslizar reflete o amor; como em Carmen Presotto, “... Nua de carne / com lágrimas impuras / brinco com as estrelas /
anoiteço...”
À noite o canto é a subsistência do grito crescente
sobre o olhar obscuro em imagens possuídas de sentimentos, como revela Clauder
Arcanjo, “fez-se mais escuro – Era noite?
Antes desprezado, um raio de sol pôs para fora seu olho santo, sendo saudado
pelas aleluias dos corações nevados. Enfim, uma luz”.
Conhecemos o que há por detrás da noite? Seriam
disfarces de nós mesmos, ou a entrega por sabermos: alucinação? Por detrás da
noite revelamos o que não fomos e nem somos. Ainda, alterarmos a verdade nos
tons de luz ou em sua falta, pois,não há glória nos esperando, mas, o coração das
pessoas no ouvir o grito em cores brilhantes e marcar a distância entre a
espera pela luz e as palavras. Carmen Presotto reflete, “... corpos fantasmas / partidos tempos / em preto e branco / saem e
gritam / na manhã...”
Esperamos
que, por detrás da noite, a alucinação garanta a permanência na Lua que se
apresenta precária e desamparada nos anúncios luminosos do poema, da música e
do amor, porque a expectativa é de que a noite disfarça os brilhos e torna
todos iguais – daí a expressão de que “todos os gatos são pardos”. Todos somos
acrobatas na própria existência e propícios a sermos consumidos pelas luzes do
cotidiano, na convivência e na palavra. Clauder Arcanjo descreve, “... Como dormir não conseguiria, e esquecer
não mais queria, chamou a Noite, fazendo um triplo – solitário amor: ele, a
Noite e a Melancolia”.
A
“amante” por atrás da noite faz e
desfaz espaços onde há engano no brilho dos cristais incendiando nossas vidas. Para
Ferreira Gullar, “O brilho é vil; /
aprenderás a mastigar o teu coração, tu mesma”.
Parto
da premissa que podemos ampliar o significado da noite para lidarmos com a
espera, como desafio que nos remete ao conceito do “diferente” no dar sentido ao que desejamos encontrar e
conquistar para alimentar o pensamento. Nas palavras de Clauder Arcanjo, “A noite suspirava, dolorosa, por entre as fímbrias
da madrugada. E a cidade a sonhar com o milagre de outra vida...”.
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