A
sombra chega, entra nas casas e nos enlouquece com suas arquiteturas
oscilantes; regride com os interesses pessoais e entre as fendas rouba-nos o
sorriso e o tempo. Quanto mais brilho na tela, mais perdidos estão nossos
sentidos. Leila Mícollis revela, “Quando
por fim dei trela / e disse:- use e abuse -.../ preferiste ver novelas...” E,
Nilto Maciel comenta, “O povo gosta mesmo
é de ação e intriga. Em razão disso, se dá a grande audiência das novelas de
televisão”.
Uma
voz do outro lado da tela pergunta: quem está me assistindo? O que resta de nós
na ameaça é o delírio causado pela transmissão do veneno com que a televisão
mostra peripécias de figuras enraizadas no imaginário coletivo, onde pessoas se
abalam, porque tem a opção de não ligar o aparelho, mas ligam sempre e sempre,
substituindo o diálogo e a leitura. Para Mario Quintana, “Se cada um de vós, ó vós outros da televisão / abrisse um livro de
poemas.../ Faria uma verdadeira viagem...”
É lamentável pessoas trocarem a leitura por horas diante da
televisão, fica prejudicada a criatividade e desencadeia comportamentos sem
ressonância do ponto de vista pessoal. Sim, a TV é competição constante a
distorcer o reflexo da alegria e da tristeza; o branco e o preto; o bom e o
ruim; o pobre e o rico; impõe suas verdades como realidade, em
(in)diferentes personalidades ao passar
a cultuar “looks” que se misturam em inconciliáveis normas da vida. Mario
Quintana expressa, “Porque prender a vida em conceitos e normas? / O Belo e o Feio... O
Bom e o Mau...Dor e Prazer / Tudo afinal são formas / E não degraus do Ser!”
A
televisão invade fronteiras entre idades e faixas etárias nas programações do
que apresenta. Escancara sobre o sexo e a sexualidade. Fala de “transas” sem
compromisso com o tamanho do “estrago” causado no telespectador. Faz do amor um
ato leviano e passageiro. Reinventa a idade ao desfilar versões simbólicas do
homem e da mulher “moderna” - que não “teria” medo de ser feliz - para o
delírio (no sentido literal) dos telespectadores, pois, no cotidiano tudo é
pesado, pensado e estruturado para chegarmos ao objetivo tanto emocional,
quanto profissional. Nas palavras de Júlio Perez, “... Às vezes / fico paralisado / na tentativa... /são tantas vozes! /
Serão fantasmas? / Serão duendes? / Serão anjos ou / demônios? / Me ajudarão na
inspiração? / Me aproximarão da vida?/- ou dela/ me afastarão?//...”
O
que me causa preocupação, além das já referidas, é que os telespectadores são
considerados apenas consumidores em potencial; as programações atendem sempre a
interesses comerciais e político-sociais. Tal influência na sociedade revela o
baixo “nível” de conhecimento, não sendo capaz de reconhecer que há atitudes
desequilibradas demonstradas através da agressividade fantasiosa em sua
plenitude, quando opiniões e visões expostas não coincidem com a realidade.
Márcio Almeida na crônica Televisão e
Violência diz, “...os programas
alimentam uma forma paranoica de relação com a realidade social que os
circunda...”
A
programação televisiva apresenta uma realidade irreconhecível, com o que
pretende redesenhar e reconstituir a nossa vida. É “furacão” de única mão,
fazendo barulho e destruindo nossos dias no revelar cantos de persuasão
trazidos pela velha e sinistra máscara dos “poderosos e conquistadores do vento
e do tempo”. Alexei Bueno questiona “Que
guardaremos disso tudo? A guerra / Inconcebível entre o horror e o encanto, /
Ou o ancestral silêncio, ou o ágil canto / Que o tem por tema?”
A
televisão resiste ao tempo sem espelhar a memória do que presenciamos de
verdade. É reflexo vazio de vestígios indomáveis das paisagens sombrias: aqui é
doce, na TV é amargo e, do que é verdadeiro, na TV é falso. Assim, ela
continuadamente envolve o telespectador e suga a sua vida em função das metas
ideológico-comerciais. Papel que interessa a quem? Júlio Perez retrata, “Um homem se despe de suas roupas / Um homem
se despe do seu orgulho / Um homem se despe da vaidade // ...Um homem se despe
do seu corpo / Um homem veste sua alma. //... Um homem se despe da sua vida / e
a vida... uma mentira”. Mario Quintana alerta, “É o que dá ver tanta televisão. Simples – esquecemos de tentar ser
felizes de uma forma mais realista...”
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