segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

0

Pequenas histórias 304

Ele, com as mãos




Ele, com as mãos dos olhos, contornaram a nudez da palavra seguindo letra por letra, até formar silabas que, por sua vez, deu forma a palavra. Sorriu. Não sabe por que, mas sorriu. Será que consegui escrever uma frase de efeito? Isso é literatura? Bom, o importante é que estou escrevendo seja lá o que for, estou colocando em símbolos gráficos pensamentos e ideias. Colocou ponto final. Afastou-se. Leu mais uma vez. Ah! Está bom, melhor é impossível. Quem quiser que escreva melhor. Fechou o Word, desligou o micro. Pegou a cerveja e foi se estirar a beira da piscina.
Ele, com a pele excitada, sentiu a cadeira quente nas coxas e nas costas.. O sol da tarde esparramava cintilante brilho sem ofuscar os olhos. Tomou três goles de cerveja estupidamente gelada. Coçou a virilha por cima do calção. Ah! Se ela estivesse aqui nesses contornos da tarde emoldurando nossos corpos, seria digno de uma pintura concreta abstrata, disse para si mesmo. Estirou as pernas. Coçou novamente a virilha e sentiu o ardor de lábios roçando-o.
Ele, com o corpo apático, deitou a cabeça no travesseiro e sorriu. Mais uma vez, enganou-se na solitária prosaica vida. Mais uma vez, o ácido da ausência lhe fez companhia. Sorriu. Virou o corpo, abraçou o travesseiro e mais uma vez, dormiu na paz apática de simplesmente existir.



Pastorelli

Seja o primeiro a comentar: