O arroz
O arroz! Como gosto de arroz não está escrito. Como arroz de tudo quanto é jeito. Não vou aqui descrever o que se pode ou não comer com o arroz. Mas aquele arroz estava muito abusado. E como estava. E olhe, eu não tinha bebido nada, nem cheirado, nem fumado. Apesar de que gosto muito de um fumo às escondidas. É tem que ser às escondidas e em público. Esse negócio de fumar em lugar seguro não é comigo. Mas naquele dia estava em branco, branco como uma folha virgem a espera do jato gostoso e preto da tinta. Não, eu não tinha fumado mesmo.
O restaurante como sempre lotado. Tive que
esperar uns segundos até que a mesa do canto fosse liberada. Assim sendo, como
meus olhos não ficam sossegados, passou a observar o pessoal faminto e
desesperado. Nessas horas se descobre os infortúnios e os ridículos de cada um.
Bem, eu estava na minha, quer dizer, sempre estive na minha, gosto mais de
observar as pessoas do que ser observado. Se alguém me observa, ponto para essa
pessoa. Nisso o garçom, acho que foi o Lira, acenou pelo espelho da parede
esquerda dando a entender que tinha um lugar vago. Dirigi-me para lá. Como eles
dizem: o salão nobre que, de nobre não tem nada, é apenas aconchegante e nos
dias de verão um pouco abafado.
- O que vai hoje.
- O que vai hoje.
- O de sempre, filé de frango e legumes.
- É pra já.
Enquanto esperava, fui destrinchando o pão
molhando no molho da pimenta. Quando o Lira trouxe o prato notei algo
diferente, mas não disse nada. Comecei a comer. Primeiramente optei pelo file
de frango. Depois, coloquei no prato um pouco de arroz. Com a colherinha
despejei um pouco de molho de pimenta e, coloquei o outro pedaço do filé de
frango. Distraído, mecanicamente fatiando o frango, saboreando os legumes
embebidos em azeite, foi que notei a diferença. O arroz... Bom, devo dizer
alguns grãos de arroz, começaram a se mexer. A princípio era um grão somente,
em seguida surgiu o segundo, logo após o terceiro e, quando percebi estava uns
dez grãos dançando na borda do prato onde se via o emblema do restaurante entre
filetes pretos e vermelhos. O gozado é que não me surpreendi. Sabia que isso um
dia aconteceria, só não previ que fosse hoje. Por momento hipnotizado fiquei
observando-os dançando de um lado para o outro, dando piruetas, pulando no
feijão como se fosse uma piscina... Estes, os grãos de feijão, por sua vez nada
diziam nada faziam quietos recebiam os grãos de arroz e, como não podiam sair
dali, davam o braço... – se é que eles, tanto arroz como feijão tivessem braços
- uns aos outros e saiam dançando, melhor dizendo, nadando no caldo escuro do
feijão.
Fiquei embasbacado, olhando aquela pantomima esdrúxula.
Achei melhor não dar importância ao fato. E nem devia, ninguém acreditaria mesmo e, parecia que só eu estava vendo o espetáculo dos exibidos grãos. Coloquei de lado o prato. Decidi comer somente o file de frango e os legumes.
Fiquei embasbacado, olhando aquela pantomima esdrúxula.
Achei melhor não dar importância ao fato. E nem devia, ninguém acreditaria mesmo e, parecia que só eu estava vendo o espetáculo dos exibidos grãos. Coloquei de lado o prato. Decidi comer somente o file de frango e os legumes.
Do caixa, quando estava pagando a conta, ainda
pude ver os malditos grãos em seus malabarismos de dançarinos exuberantes.
Balancei a cabeça de um lado para outro, como se dissesse:
- Não se fazem mais feijões e arroz como antigamente.
- Não se fazem mais feijões e arroz como antigamente.
Pastorelli
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