Vale perguntar se no cotidiano, com tantos
compromissos, há tempo para a literatura? É preocupação marcante para as letras
e a vida cultural definirmos um tempo para a literatura, para que a criação possa
continuar sendo revelada e desvelada por nós leitores. Tal certeza nos leva a
fazer melhor o dia atual do que o anterior, porque rompemos a limitação sobre
as maneiras de (con)viver. Assim, em Agostinho Both, “Acredito, não sei... se por influência de boas leituras e conversas,
que o homem pode ser um pouco mais feliz no seu dia a dia, se for capaz de
pensar sobre tudo o que acontece, tirar suas decisões e pôr-se em ação...”
Ao
semearmos o ideal e o benefício da leitura cultural encontramos palavras, autores,
ideias e ideais como desejo de ultrapassar os limites da imaginação, onde a
vida cresce diuturnamente, como na canção O
Tempo Não Pára de Cazuza.
O
tempo passa e as obras literárias continuam marcando lembranças e descobertas. Ainda
na visão de Agostinho Both, “tenho dó de
mim quando jovem e também dos jovens que passam por mim. Devoram a vida sem
poesia”.
Quando lemos, dialogamos com o tempo, pois, recorremos à trajetória da
curiosidade ao nos propor reflexões sobre as mudanças efetivas. Exemplifico: Por
que Leminski é dos poetas mais lidos nos últimos tempos? Como José Saramago se
tornou internacionalmente um dos nomes fundamentais nas letras? E, que dizer de
Chico Buarque que, nos anos sessenta, para fugir da censura, foi obrigado a
usar dois pseudônimos: Leonel Piva e Julinho da Adelaide? Anote-se que, quando
descoberto o estratagema de Chico, a censura passou a exigir o RG dos
compositores.
O
significado da literatura é explicado por Joel Rufino no livro Quem Ama Literatura, Não Estuda Literatura, onde
apresenta tentativas de repensar, através da ciência e da técnica, se a
literatura é abordada como disciplina ou indisciplina.
O
tempo traz mudanças: livro em papel ou digital? Mas, mesmo assim, para os
amantes da literatura, a preocupação é a mesma: ler. Seja em tela ou papel. Ação
que provoca e proporciona o prazer, muitas
vezes inexplicável, de sorrir quando há tempo para a literatura.
Acredito
que, o tempo e a tecnologia nos aproximam da literatura; através da internet
podemos relembrar, conversar sobre obras e escritores em suas validades, a
qualquer hora; juntar o passado e o presente que completam o cenário cultural,
mesmo diante dos questionamentos sobre a realização e o processo de criação. Misturar
palavras e expressões; o significado e o significante levam a avaliar o
passado, entender o presente e preparar o futuro para preservar o tempo para a
literatura. Agostinho Both expressa, “...
leu que só leu Érico Veríssimo e Guimarães Rosa. Entendeu o quanto ainda era
pequena sua conversa e o pouco tamanho que tinha sua alma”.
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