“... Somos o
infinito / de vez em quando revelado / nesses rasgos / da alma / nessas agonias
/ quando o espírito espreita / do lado de lá / e já / não lhe basta mais o dia
/
a monotonia / do
seu estado atual. // Quer navegar!”.
(Júlio Perez)
Na cidade o mar está do
lado de lá. No rio a ponte está do lado de lá. No caminho há desenhos
geométricos que me levam para o lado de lá. Na floresta o espaço infinito do
mundo é do lado de lá das coisas. Carlos Job diz, “... Esta terra encantada, também sofreu seu revés. Os sábios, ainda
hoje, discutem de quem é a culpa. Se dos moradores do além da floresta ou dos
do lado de cá...” Na escultura o lado do sonho é o lado de lá. No quarto,
pelo buraco na parede, entra o sol do lado de lá e mostra o seu reflexo. Na
imagem do homem o mundo está do lado de lá. No céu azul aparece a garça branca
do lado de lá e, no lado de cá, Uma Garça
no Asfalto, de Clauder Arcanjo. A grade não prende, porque há espaço do
lado de lá. Meu pensamento passa do lado de lá como se fosse objeto do mundo,
que empilha vazios como empilha nuvens do lado de cá.
Será que existe
diferença no lado de lá entre ver e olhar?
O lado de lá fica
marcado por que desemboca num só lugar – na imaginação. E, quando somos as
descobertas, chegam iniciativas em diversos ângulos do fim da ilusão e da
libertação; o reconhecimento das prioridades e os dilemas na administração do
tempo. Vejo o lado controverso que envolve culpas e vitórias. Também, articulo
interesses contraditórios: o lado de lá e o lado de cá como fronteiras entre o
setor pessoal e profissional. Adiciono isso ao fato de que a vida é dinâmica e me
considero apta para desejos e limites. Mas, só com o (auto)conhecimento é que
compreendo o lado de lá... Como demonstra Helena Rotta de Camargo, “Canto e gemido; sorriso e lágrima;
dinamismo e apatia; aconchego e solidão: eis a cara da realidade”.
O
palco da vida apresenta dois lados: o da desigualdade e o lado de lá, o das
mulheres e o lado de lá, o futebol e o lado de lá. Eu assisto sempre do lado de
lá... Como se seguisse o caminho natural para descobrir que é possível
determinar a minha necessidade e a paz para melhor viver. O fato é que na vida
encontro o outro lado. É como inspirar e expirar nas reações do corpo.
O lado de lá existe,
mas, exige concentração para a vista alcançar o outro lado e investir nos
sonhos. Ainda em Helena Rotta de Camargo, “Da
outra margem do tempo, a velhice observa a correnteza, que vai levando, de
roldão, as últimas gotas da juventude que se exauriu”.
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