domingo, 1 de dezembro de 2019

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LA MIJONA




- Fica firme, não se mexe de jeito nenhum. Não pisca, olha fixo pra mim.
- Se demorar mais um pouco, de Monalisa eu vou virar Mona Enrugada. Ninguém aguenta isso, Leonardão...
- Segura um tiquinho mais aí. Misericórdia, segura mais um pouquinho só. Manda aquele sorriso enigmático que só você sabe fazer... Isso... faz e segura. Pensa que o seu marido, aquele mercador que não dá valor ao que tem em casa, está viajando para as Índias e você está livre para fazer tudo o que tem vontade... Tudo, tudo, tudo mesmo. 
- Assim?
- Quase. Levanta um pouco mais a cabeça e para de pensar nessa sacanagem que você imaginou aí. Preciso de um meio-termo, compreende? Uma expressão que faça as pessoas refletirem, ficarem intrigadas. Não vamos entregar o sentido, assim tá vulgar. Está libidinoso demais. Sei que você pensou em mim e fico lisonjeado com isso, mas menos. Bem menos, Mona.
- Bom, então eu vou fazendo caras e bocas até você achar que está bom. Quando chegar no que você quer, me avisa que eu congelo.
- Estufa bem o peito, vamos deixar este decote mais insinuante. É, quase isso, mantenha bem reta a coluna.
- Perfeito, só que desmanchou o sorriso, Mona.
- Ô, Dio mio! Ou eu presto atenção no sorriso ou nessas instruções de postura, não consigo controlar tudo ao mesmo tempo.
- Agora é dar uma esfumada aqui nos cantos dos lábios.
- Fumar? Posso dar um intervalo pra fumar? 
- Não, não... esquece o que eu falei, fica firme aí. 
- Viu, será que rola um limoncello daqui a pouco? Pra relaxar, sabe. Já tem umas três horas que estou aqui.
- Minha querida, entenda que estamos vivendo um momento histórico. Pode ter certeza de que daqui a 500 anos ainda estarão falando da gente. Posso até imaginar o quadro pronto e exposto, protegido pela polícia e por cordão de isolamento, num museu imenso. Milhares de pessoas por dia pagando uma senhora grana para ver - e de longe - o que vai sair desse pincel daqui a pouco. 
- Se acha, né? Vai inventar helicóptero que dá mais certo, cáspita.
- Imagina só, gente do outro lado do mundo, cruzando mares só pra te ver. Chineses vindo em arrastão ao museu onde o seu retrato vai ficar, tendo que dar uma olhadinha rápida e sair logo, pra entrada de outra leva de chineses, e assim ininterruptamente, sete dias por semana. Em lugar de navegadores italianos arriscando a vida para conquistar territórios no Novo Mundo, a América desembarcando em massa para se extasiar com seu rosto misterioso, minha musa florentina.
- Aham... aí você acordou?
- Falo sério, querida. A pintura está prontinha aqui na minha cabeça, mas você precisa colaborar um pouco. Por que tá encolhendo a barriga?

- Tô é segurando a bexiga... me libera pra um xixizinho básico, Leo!!!

- Se o problema era esse, já devia ter falado. Pega isso aqui, ó. Coloca debaixo da saia e fica à vontade, não precisa ir até o banheiro. Se preferir, eu viro as costas pra você não ficar com vergonha.

- Que estranho esse negócio. Eu seguro aqui na alça?

- Isso.

- Só você mesmo, Leo...

- Minha última invenção. Chama-se penico. 



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