terça-feira, 8 de novembro de 2022

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Se não sabe brincar não desce pro play.


Se não sabe brincar não desce pro play, disse batendo a porta, deixando-a naquele quarto de hotel barato. Seminua, sentiu o mundo desabar. Irritada, não com o que ele dissera ao sair, mas quando entre suas pernas demonstrando a virilidade de macho dominador, ao acariciar sua virilha, introduzindo o dedo faminto em sua calcinha, puxando-a para baixo, com a voz alterada pelo arfar do desejo, maldosamente dissera aos seus ouvidos: com essas pernonas parece uma seriema insaciável. Seriema! Seriema a puta que te pariu, gritou empurrando ele que caiu da cama! Tudo bem, grandona, perna comprida sempre fora chamada de Ema, apelido de infância, mas não podia tolerar isso dele, do homem que amava. E além do que ele era infantil demais. Não suportava a infantilidade dele. Como era infantil, meu Deus! Não suporto infantilidade, disse levantando-se da cama com lençóis encardidos. Achava ridículo ver pessoa com mais de quarenta anos agir como se tivesse dezoito ou vinte anos. Não era contra as brincadeiras, até brincava algumas vezes, mas ele exagerava, a todo o momento, sem motivo algum, soltava seus ditos infantis: se não sabe brincar não desce pro play, dizia alterando a voz debochando, ou, ema ema cada um com seu problema ou, ainda mais ridículo impossível: ema ema a Silvia é uma seriema. Tinha vontade de esbofetear aquela cara de babaca. Elogiava todas as vezes que via jovens fissuradas em shoppings, com seus piercings e argolas alargando o furo das orelhas e tatuagens. Quando ele apareceu com a tatuagem de um cisne estilizado no braço, se zangou, brigou, discutiu, não entendia como uma pessoa podia maltratar a si mesmo, além do que debochou dos seus princípios religiosos ridicularizando-a. Com muito custo, recolheu a mágoa, aceitou, pensando que o seu amor por ele fosse mais forte, que sobrepujaria todo e qualquer empecilho, o qual seria, com a felicidade, compensada no futuro. Enganara-se. Se não sabe brincar não desce pro play. Ema ema a Silvia é uma seriema. Foi demais. Não queria mais saber dele, disse entregando a chave para o recepcionista que a olhou imaginando sabe-se lá o que.
Agora, sentada nesses bancos exíguos, com o joelho quase tocando seu peito, não suportava olhares de curiosidade gravados nela. Já tinha ensopado dois lenços, impulsiva não se controlava, quer dizer, tentava, mas não conseguia reprimir o choro. Silencioso, mas era choro. O que não suportava eram os olhares que sabia, tentavam descobrir porque a seriema estava chorando.

Principalmente o coroa com aquela moça. Percebeu que ele lhe dissera alguma coisa no ouvido dela, pois logo em seguida, a moça a olhou, surgindo em seus lábios um sorriso reprimido. Droga! Vão todos a puta que pariu, pensou ao assuar-se no lenço encharcado de lágrimas. Estação Penha anunciou o alto falante. Levantou-se e assim que o trem parou, passou pelos dois, empurrando-os sem ao menos se importar com o que dissessem. Cada um vive as suas próprias dores sem se importar com o sofrimento alheio, disse pisando firme na plataforma da estação. 

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