domingo, 16 de julho de 2023

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40. Espetáculo


               1

No silêncio dos passos
Não descarto o perigo
Leva-me o desatino
Reduzindo o que sinto

A palavra transporto
Na mochila eternidade
O sentimento disperso
Pelos cantos da cidade

Não choro as perdas
Recolho os danos
Costuro-os no pano
Da pele como fardo

Da tristeza espalho
A semente daninha
Na rua praça esquina
Sem mudar minha sina

Não dou à mínima
Para mágoa raiva
Ódio dúvida e dor
Resvalo sem pudor

              2

Quebra-se o encanto
A mídia maravilhada
A câmera deflagrada
Revela o fútil espanto
Os fãs a chorar o morto
Em show de realeza
Como se fosse santo

Ao espetáculo circense
Tudo é permitido chorar
Rir cantar até o nonsense
Da pantomima televisada

                   3

A vida vou levando
Dia após dia interrupto
Manhã após manhã
Minuto após minuto
Jubilo-me agraciado
Por viver neste afã
E não ser idolatrado

                  4

Vivo a mundana vida
Costurando feridas
Pagando as dividas
Em datas previstas

E proibido ou não
Prazeres vou curtindo
Saciando-me de vícios
Trilhando caminhos
Até alcançar o ideal
Infinito sem regras
E sem prioridades

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