Uma manhã de um lindo sábado de outono, no mês de maio, sol agradável e rosas nos jardins. Rosas de maio. Muito lindas! Nesse dia cheguei apressada na portaria do clube onde dava aulas de dança para crianças e adolescentes. Naquele dia estava um pouco atrasada. Ao entrar esbarrei em um rapaz que saía do clube apressado, todo paramentado para alguma apresentação e com uma gaita a tiracolo. Quase caí. Ele segurou-me pelo braço delicadamente e pediu desculpas. Seus olhos muito azuis fixaram-se nos meus por um momento, e vi lágrimas neles. Sorri agradecendo e perguntei:
- Algum problema?
- Não, professora! – respondeu ele saindo em seguida.
Entrei rapidamente, pois era essencial que o som, os CDs e tudo o mais estivesse absolutamente no lugar quando a turma chegasse para a aula. Assim que coloquei o último detalhe em ordem os adolescentes entraram com a algazarra costumeira. Vendo-me, começaram logo a posicionar-se para o início da dança. Os meninos e meninas eram demais de bagunceiros. Mas quando a música iniciava e os passos da dança eram passados, ficavam concentrados e aprendiam depressa.
Notei na turma alguns novatos, entre eles o rapaz loiro que esbarrei na entrada. Atinei que os paramentos eram para a aula, e não para alguma apresentação como pensara no início. Ele sobressaiu entre os jovens porque era visivelmente mais velho. - Atenção! Vamos nos apresentar, porque hoje temos novos alunos. Comecemos da direita para a esquerda.
Enquanto todos diziam seus nomes, prestei atenção no loirinho do final da fila. Parecia ser tímido e humilde, seus olhos tristes me olhavam e ainda estavam cheios de lágrimas. Mais tarde falarei com ele, pensei.
- Muito bem turma! Agora que todos já se conhecem, vamos dar início.
Ao final da aula, peguei a lista de chamada para as anotações de presenças e verifiquei que havia só três nomes novos, e foram quatro que participaram da aula. Então pedi gentilmente:
- Peço aos novos alunos que se aproximem, por favor!
Todos eles vieram, empurrando-se e cutucando-se como era de se esperar. Atrás dos outros três veio o loirinho tímido, ficando parado um pouco afastado dos demais. Solicitei o nome dos três primeiros, e eram os que estavam na lista de chamada. Dispensei-os, e pedi para o garoto tímido aproximar-se.
- Como se chama?
- Luan!
- Você gosta de dançar?
- Sim, muito, por isso quero aprender!
- Gostou da aula de hoje?
- Foi ótima!
Ele falava como se estivesse com medo. Medo de não ser aceito.
- Que bom que gostou. Posso colocar seu nome na lista de chamada? - Seus olhos muito azuis fixaram-se em mim, já sem lágrimas.
- Sim. Gostaria muito!
- Ótimo! Então estamos combinados. A partir da próxima aula você está oficialmente participando da turma. – falei sorrindo e lhe dei um beijo na face como despedida. Tratava todos meus alunos com muito carinho, pois dava aulas de dança por prazer, sem cobrar nada, nem dos alunos, nem do clube. Era por isso que minhas turmas eram sempre bastante procuradas.
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