terça-feira, 22 de março de 2011

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Os Ciganos - Capítulo XXXI


Fui até à beira de um rio que deságua no mar por trás do morro do farol, onde Sara e Miguel lavavam suas roupas. Várias vezes os vi ali. Estava deserto! Onde as águas do rio encontravam as do mar, o curso ficava mais escuro. Andei pela beira das águas que se esgueiravam pelas pedras, e algo me chamou a atenção. Parecia um amontoado de roupas coloridas lutando com o fluxo das águas. Soltei um grito chamando Andy:

– Corram até aqui! Tem algo que parece ser roupas de Sara.

Andy e Reika chegaram correndo e tentaram alcançar com as mãos o que estava tentando flutuar. Andy entrou nas águas e gritou para nós:

– É melhor não mexermos em nada. Vamos esperar que cheguem as pessoas que chamei. Isto é o corpo de Sara. Ela está morta!

Em minha cabeça apareceu a imagem de Sara, que vi em meu sonho, voando para o mar junto das gaivotas.

Ouvindo o que Andy falou, Reika entrou também nas águas falando alto e chorando ao mesmo tempo:

– Não pode ser! Como pode ser o corpo de Sara?

Andy a segurou pelos ombros e falava com carinho:

– Calma querida! É ela sim! Precisamos deixar assim como está até a polícia chegar.

– Não posso deixá-la, entende? Ela faz parte de mim desde criança, como vou deixá-la assim na água?

E debatia-se nos braços de Andy! Eu também comecei a chorar e andar de um lado para outro. Perguntei:

– E Miguel, onde estará? Ele nunca abandonava Sara para nada na vida! Que fim levou?

E falando assim comecei a chamar por Miguel, corri até onde estavam os pertencem deles espalhados como se lá estivesse a resposta dos meus chamados. As pessoas que estiveram ali olhando, correram também para a beira do rio. O movimento absurdo do pré-carnaval lá nas ruas da praia, não deixavam outros sons serem ouvidos.

Alguns policiais chegaram atendendo o chamado de Andy. Eu chorava ajoelhada ao lado das coisas dos ciganos quando eles perguntaram:

– O que aconteceu aqui?

– Tem uma moça morta ali no rio – falei chorando.

Os policiais correram para lá, onde Andy amparava Reika que soluçava alto.

Repentinamente havia muitas pessoas fazendo perguntas, como vieram nem vi. Eram banhistas curiosos que por certo ouviram o choro alto de Reika, e vieram ver de que se tratava. Levantei da areia e voltei para o rio. Andy explicava aos policiais como encontramos o corpo, e falou que Miguel era um companheiro inseparável da moça morta, e que inexplicavelmente não se encontrava por ali. Vieram mais policiais e uma ambulância. Perdi a noção do tempo enquanto as coisas eram resolvidas por Andy. Ele parecia ter uma varinha mágica, falava ao telefone e em seguida apareciam pessoas, policiais, médicos e enfermeiros, e tudo ia se resolvendo. Um dia Renan falou que ele pertencia a uma família influente. Pai Juiz, tios Promotores Públicos e juízes também, entre outras coisas. Devia ser isto! Pessoas ricas e influentes conseguem fácil o que nós pobres, demoramos uma eternidade para resolver. E isso quando conseguimos resolver

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