Todas as tardes eu descia pelo caminho que saía da porta dos fundos de nossa casa, até o cristalino riacho que passava lá na baixada pedregosa do terreno.
Era um pequeno córrego de mais ou menos dois metros de largura que tinha uma água límpida que dava gosto! Podia-se ver os seixos do fundo do leito e os peixinhos nadando a beira do pequeno barranco, onde eu sentava embevecida a olhar a água correr em seu infinito labor a procura do mar. Era o cantinho preferido de minha infância. Só não descia ao riacho quando chovia muito, mamãe não deixava.
- Menina! Não desce ao riacho hoje! Sua tosse vai aumentar! - gritava ela quando me via direcionar para a porta dos fundos da casa.
Então, calmamente voltava para o meu quarto e retomava a brincadeira dos dias de chuva, mudar a roupa das bonecas, ou fazer comidinha de mentira no fogão a gás de brinquedo. Afinal mamãe sempre tinha razão. Quando me molhava na chuva, a bronquite aguda que tinha incomodava demais à noite. O jeito era ficar dentro de casa mesmo.
Esse riacho era meu refúgio, tanto nas horas ruins como nas boas. Se levava bronca por algum motivo, descia o caminho até o barranco para no correr das águas limpinhas deixar minha raiva ir embora. Se estava feliz, ia lá para contar aos peixinhos a minha alegria.
Em uma árvore próxima ao riacho meu pai fez um balanço com um pneu velho. Como era gostoso ficar lá a balançar meus pensamentos no vai e vem do vento que formava com meu corpo. Prá lá e prá cá! Num suave esvoaçar, até dona Maria, a cozinheira, chamar aos berros para o lanche da tarde.
- Menina! Vem logo. O lanche está pronto.
Então, sem muita pressa subia o caminho de volta para a casa e ia saborear os deliciosos quitutes de Dona Maria.
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