Morávamos na fazenda. Meu pai era criador de gado, tinha muitos bois espalhados pelos pastos verdinhos. Esses pastos eram uma coisa muito linda de se ver. Alastravam-se como um imenso mar verde, salpicado de branco pelos belos exemplares da criação de meu pai.
Da janela de meu quarto, todas as manhãs, com sol ou com chuva, eu lavava os olhos na imensidão que ficava a minha frente. Quando o sol brilhava, seus raios douravam as gotas de orvalho nas folhas das árvores dos capões de mato, e assim de minha janela, essas gotas de orvalho pareciam lindas contas de diamante brilhando intensamente. Também, dali podia ver perfeitamente os madrugadores peões ao longe na sua lida com o gado, e que em minha fantasiosa imaginação dos seis anos, confundiam-se na sela com o cavalo parecendo pequenos centauros. E as flores no jardim então? Era uma festa colorida, onde os pássaros brincando de esconde-esconde faziam algazarra.
Esse jardim ficava bem debaixo de minha janela, sempre florido, não importava se fosse verão ou inverno, era o milagre do clima tropical e das mãos de Seu Pedro, o jardineiro.
Separando o jardim e a casa dos currais, tinha uma cerca viva, que duas vezes por ano ficava branquinha de pequenas flores, e era o orgulho de Seu Pedro, que com muito carinho mesclou duas qualidades de arbustos para dar aquele visual tão lindo.
Próximo a casa, tinha um pomar. Cheinho de frutas de todas as qualidades. Nem sei dizer quantas eram as qualidades que havia lá. Lembro bem das laranjas, grandonas e cheias de sumo doce, doce! Das maçãs que Dona Maria fazia uma geléia deliciosa! Pêssegos, mamões, uvas, peras, jabuticabas. Ah! As jabuticabas! Como era gostoso subir nos pés grandões e cheios de verrugas negras. Era uma alegria só. As crianças e os pássaros unidos para fazerem da algazarra uma verdadeira festa. Tínhamos frutas o ano todo. Fruta da época, fresquinha e saborosa. Tudinho ali ao alcance da mão. E dos pés.
O pomar era um lugar fresco e agradável no verão escaldante, e seu Pedro dizia:
- Gente! Vem brincá aqui na sombra das fruiteira. Aí o sor não arde tanto no cocuruto de ocêis.
E a "gente" rindo, corria para as sombras das grandes árvores frutíferas.
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