Uma carteira e seus sentidos
as crianças de Realengo
Observe essa carteira vazia
– ociosa –
desocupada.
Entre na dimensão do absurdo
– no que se contorce –
e resvala,
e desperta,
e nos cala.
Observe essa carteira vazia
–ruidosa–
maculada.
Ventre da omissão confusa
– que nos paralisa –
e enoja,
e perpassa ,
e retalha.
Observe essa carteira vazia
– poderosa –
enfeitada.
Lembre da profusão do sangue
– que se dispersa –
e tinge,
e respinga,
e nos entala.
Observe essa carteira vazia
– fervorosa –
devotada.
Sente a celebração da loucura
– que consente –
e trucida,
e cega,
e nos abala.
Observe essa carteira vazia
– tenebrosa –
mal fadada.
Sente a emanação do ódio
– que se alastra –
e devora,
e abraça,
e nos trespassa.
Observe essa carteira vazia
– silenciosa –
abandonada.
Crente na devassidão do mundo
– que surpreende –
e ignora,
e reproduz,
e nos arrasa.
Observe essa carteira vazia
– deliciosa –
delicada.
Prenhe de ilusão confusa
– que consente –
e insinua,
e seduz,
e nos agarra.
Observe essa carteira vazia
¬– espaçosa –
desejada.
Crente na criação do sonho
– que compreende –
e ama,
e perdoa,
e nos concede a graça.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
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Uma carteira e seus sentidos - Realengo
autor(a): Jorge Elias Neto
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