Sim,
eu era esse homem a recolher dessas mãos incrivelmente limpas os poucos préstimos
de sua generosidade. Mãos alvas, sequer me interessava o restante provável do
corpo que as sustentavam naquele movimento até mim, ali ao chão. Toquei-as,
involuntário. E estremeci, como se num repente me percorresse o corpo a certeza
de outro, que me tomasse sem sobreaviso, habitando os dois essa precariedade
que eu era. Agradeci. Guardei os cents no
bolso, e me perguntei para onde eu seguiria dali, então. Onde eu haveria de
descansar esse corpo já negligenciado, sem que sentisse a ameaça me rondar nas
sombras de uma madrugada árida desses confins. E se eu me exilasse, sim, buscasse
outra afirmação, talvez se me recostasse sob uma marquise, esse corpo ainda,
esse mesmo, talvez se eu o recostasse e aguardasse, como sempre fiz, quem sabe
agarrado àquele fruto convulso em meu peito, e aguardasse sim, que essa dor não
me consumisse por demais a parca existência e eu pudesse assim ansiar uma
sobrevida, um pouco mais ainda...
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