O CARRO DO SOL
10.
Senhora dos vales, por que te desagrada o
brincar dessas partículas? Não faço conta de tua impassibilidade. É um jogo de
contagem ou de resistência? Se te interessa, ganhar ou perder são contas de um
colar e de uma nave. Não te desagrade, que desde o começo dos tempos entendeu o
caos que sua ordem e felicidade eram o espaço e a liberdade, o flutuar sereno
de suas partículas. Se te alivia o passar e o agravo do tempo... continue
apostando nesses homens inferiores, que teus servos, pois não conseguem ensaiar
o bailado da leveza.
Quero
orquestrá-la e conheço alguns grandes maestros. Somos brincadeiras e desaforos
da matéria, seu desafogo. Esquecemos de condensar no ponto de reserva e
passamos os dias organizando rebeldias e espiando por entre as frestas que te
cobrem o ventre. Vomitarei a luz azul e loura todas as manhãs, porque entendo
que se perfaz cento e mil e tantos pedaços de um desalinho até ombrear-se uma
arte. Ainda não entendemos a 2ª lei da termodinâmica e, caso dela
venhamos a tomar conhecimento, prometemos escapar-lhe por todos os espaços dos
paraísos vizinhos. Aqui ficarás recordando os tantos malefícios.
- Meu belo
mago, meu coração já não recorda as condensações e impedimentos dessas criações
que, equivocadas, aspiram consciência.
- São
contagens sem síntese, adorável menina – sorriu Acássio - que se permitem regressivas
e, se cair por sobre os ombros dos humanos a continuidade do arquétipo, sempre
se poderá consultar uma nova nave.
- Algumas
vezes fraquejo umas bobagens. Mas, saberei sentar-me no trono dourado dos
deuses e freqüentar a vibração satisfeita do quietar do tempo. Que me importam
o transcorrer e as dificuldades da matéria? Quando quiser, poderei me mover em
pensamento ou em físico para vidas superiores, que paralelas, percorrem essa
idiotice condensada.
- Deixe que
o Sol te cubra e, se te chamar o caos ou o vácuo, não de o melhor de si a eles,
antes, reserve na ponta verde do anel do mago o perfume da criação.
- Um dia a
estrela saíra de sua faixa amarela e explodirá a força para tornar-se o gelo e
o silêncio.
- Outras
nascerão. Nossas vozes e nossos passos percorrerão a órbita dos mais belos
mundos.
- Sempre
poderemos percorrer as nuvens da inconsciência na sombra do vale. Assim
poderemos emanar, em qualquer circunstância, luz e alegria.
- A alegria
em mim é tênue, se traduz em satisfação e rompimento com a desarmonia. Na
sensualidade e na sensibilidade a flor azul é o perfume santo. A mente superior
que nos engendrou tem os braços longos e a luz branca e sem vontades, acolhendo
o guerreiro e o sábio na sua celebração.
- Os maus
vomitarão na montanha seus pecados e dificuldades. Caminharão sobre os pés até
a calmaria da serpente que lhes beijou o anus.
- Fenecem
os que não se dão conta do breve percurso da mônada. Somos apenas contagem de
tempo e adoradores do templo. As novidades e enfeites que trazemos não nos
levam a ultrapassar esse limite. Muitas vezes nossas conquistas artísticas e
científicas nos fazem esquecer nossa temporalidade. A virtual alucinação dos
arcos, traspassada pelo vigor divino da natureza, poderá nos devolver a
integridade da aura. Beba no cálice das primeiras e refinadas vibrações do
raiar do dia. Ali se encontram todas as dádivas, as verdadeiras promessas, o
grande elo da redenção. Renasce, incansavelmente, o milagre, porque só é vida o
que se esquece e espelha no vôo do vento
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