Passo a apresentar alguns poemas de amor, ou mais apropriadamente, de paixão, escritos no começo do ano 90. Muito ritmicos, são o começo da minha visão do arquétipo masculino que explorei em alguns personagens que depois se chamaram Alonso, Atilio e que, acredito, sempre perseguirei. O amor, tema maior da poesia, é também sua maior e talvez única visão.
Quando sussurram as pétalas dos teus
lábios
– palavras -
me crava, em gotas espessas,
um vinagre de amor não resolvido
estagnações não fazem canções.
Quando me perfumam
olvidos desses negros olhos
- faíscas apagadas do
paraíso que não se abriu -
só lembro cravos, só
vejo trilhas espessas de
vermelhos vermelhos vermelhos
cravos vermelhos,
pálidos de fascinação
que se faz
tarde
silêncio em
meu coração
e só beijo
em meus cravos
uma saudade
que se fez cravo
que se fez
cravo.
Quando uivo urros
secos para a lua que em tantas noites
teima em obscurecer o céu, seco lágrimas
de um coração
acelerado sempre a assentar domínios, decidir desígnios,
esquentar delírios....
quando se faz neblina
nas noites de descaso e vigília,
transformo vultos em passos que me aquietam,
presenças que se adensam, pois não me contaram
os limites e os concretos e aprendi
ainda em consciência
inteireza de meu ego...
enquanto as estrelas,
antigas companheiras, ficam cada vez mais nuas,
umedeço um lábio sedento de
sonhos e fantasmas,
ardente de brasas perfuradoras
– se o desejo não é o
princípio e não pode ser o fim,
é o eterno bálsamo, enigma ou estigma,
fomentador impiedoso das madrugadas
insones,
da eterna teimosia de viver...
passei por cada cravo
um gosto de mel e
hortelã
percorri em cada um
a seiva do meu desejo
o grito do meu amor
são teus como sou tua
e entram na atmosfera
seco silvestre do teu
espaço
como um carinho de
amante insone
como o cravo que
agrava
– crava – a seiva da paixão.
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