Todos passam por períodos de maturação. E isso
acontece em momentos distintos, ao longo da vida. Muitos garantem até que o
sofrimento é uma forma sábia de fazer os seres humanos esquecerem o próprio
umbigo e mergulharem no espelho interior, que registra nossos comportamentos,
maneira de agir e de pensar. Seria a forma mais sensata de se questionar os
próprios atos e investir no autoconhecimento. Assim como uma criança, que não
tem a percepção e a maturidade de um adulto, é certo que todos têm o momento
certo para despertar.
Para alguns, o amadurecimento vem de forma linear,
equilibrada, como o sujeito que caminha em uma estrada asfaltada, sem
obstáculos ou buracos para contornar... Para outros, alguns percalços são
inevitáveis até alcançar o objetivo.
Existem ainda os que, por orgulho ou teimosia,
insistem em caminhar por estradas poeirentas, tortuosas e cheias de pedras. São
pessoas que não conseguem se desprender de velhos hábitos, por comodismo, ou
falta de confiança em si mesmos.
Sim, porque é preciso ter coragem para romper
barreiras, enfrentar obstáculos, arrebentar correntes! E quantos ficam
lamentando as circunstâncias em que vivem, incapazes de um único gesto para a
guinada? Para essas pessoas, o inesperado torna-se um monstro terrível, enorme
e intimidador, invencível...
Pois tive um amigo de infância que era assim. Ele
demorou para despertar. Juvenal era tímido e com baixa auto-estima. Sem coragem
para expressar suas vontades e aspirações. Sofria calado o fato da família, dos
amigos e colegas de trabalho sempre o “passarem a perna”.
Mas existem momentos em que é dada a oportunidade para
as pessoas se rebelarem, abandonarem velhos hábitos e partirem para uma nova
vida. Pois para Juvenal esse momento chegou com uma carta deixada pela mulher,
Laura, quando voltava do trabalho. Em poucas linhas, ela contou que tinha se
apaixonado por outro homem há mais de um ano, e que foi embora com ele. “Você é
um bom homem, mas não dava mais para continuar. Sinto muito. Se puder, me
perdoe. Seja feliz. Adeus.”
Chocado, demorou para assimilar a situação.Chorou. É
verdade que achava a mulher mais fria nos últimos tempos, mas nunca havia
desconfiado de nada.. Naquela noite, Juvenal só conseguiu dormir de madrugada.
Ficou refletindo sobre sua vida até ali...
Ao acordar, começou a reunir rapidamente suas roupas
em uma mochila. Tinha finalmente decidido aceitar o convite dos primos para
passar o fim de semana na praia. E foi o que fez, dali para frente, sempre que
podia. Ele passou a cuidar da aparência, renovou o guarda-roupa e voltou a
sorrir.
Semana passada o revi. Me contou que tinha largado o
emprego e aberto uma loja de auto-peças, um sonho da adolescência. Juvenal
tinha entendido que nunca é tarde para ser feliz.
Sônia Pillon
é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e radicada desde 1996 em Jaraguá do Sul (SC), Brasil.
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário