sexta-feira, 12 de abril de 2019

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Pequenas histórias 331


O cara tomou


- O cara tomou cinco caipirinhas e não pagou.
- Ele não quis pagar?
- Não, simplesmente não pagou.
- Levantou, saiu do bar e se jogou em baixo do ônibus? É isso?
- Sim, isso mesmo.
- Não deu tempo de segurar o cara?
- Não e depois quem poderia imaginar que se jogaria em baixo do ônibus.
- Cada maluco.
- Eu que o diga.
Ela não acreditou. Estavam almoçando. Entre uma garfada e outra, abrindo a boca de vadia sedenta, perguntava nos mínimos detalhes que já estavam cansando-o. A impressão que dava era que não acreditava no que dizia. Seu relato tinha sido os mais preciso possível. Não se esquecera de nada. E continuava a lançar em seu rosto perguntas e mais perguntas. Então ela veio com a frase comprometedora:
- Bom, se é como você está dizendo só posso chegar a uma conclusão.
E sem ter noção do que ocorreria que, caia na armadilha de natureza, não maligna, mas numa armadilha pouco sustentável, perguntou intencionalmente:
- E que conclusão é essa?
- Você foi um pouco culpado.
- O que? Eu culpado?!Está louca mulher.
- Talvez, não diretamente, mas indiretamente.
- Que baboseira é essa?
- Claro, se você puxasse conversa com ele, falasse de assuntos diversos, quem sabe o destino dele teria sido outro.
Ah! Vá à merda, disse pensativo ao atravessar a rua. Sairá de casa batendo a porta e, mandando a mulher catar coquinho na Indochina. Ele culpado? Como? Por quê? Só porque não puxara conversa com ele? Ora, bolas! Sabia que não era de estar puxando conversa com quer que fosse. Se o cara, quem sabe, puxasse conversa com ele, poderia conversar, mas o cara nada disse, tomou as cinco caipirinhas e se matou debaixo das rodas do ônibus. E ele era o culpado. Ah! Vá à merda, disse mentalmente mais uma vez. Se fosse prestar atenção em todos estranhos e esquisitos estaria arruinado.
- Foram cinco caipirinhas?
- Sim, cinco.
- Serão descontados do seu salário.
- Tudo bem.
- E vê se não deixe acontecer mais isso.
- Pode deixar.
- Ouvi dizer que se repetisse isso novamente, te mandaria embora.
- Ele disse?
- Sim, disse.
- Mato ele se me mandar embora.
- Ta, me engana.
Vestiu o uniforme, colocou o ridículo chapéu que combinava com o avental, e se pôs a trabalhar. Depois de cinco minutos, tendo sossegado a raiva dentro dos nervos, quando lavava os copos, ouviu alguém dizer bem perto dele:
- Por favor, uma caipirinha.
Assustou-se. Levantou a cabeça e...
- Por favor, uma caipirinha.


pastorelli

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