terça-feira, 29 de dezembro de 2009

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CHUVA - Claudio Parreira

Havia alguma coisa de aflição no meu peito. E eu não sabia. Sabia. Sei lá.
Os meus pés começaram a caminhar mais depressa do que eu queria. Pés rebeldes. Uma luz vermelha na minha cabeça.
Quando vi a delegacia, uma ideia: proteção. Descartei logo em seguida. Não havia mais proteção, segurança. Um medo aqui por dentro.
Mesmo assim, considerei as possibilidades. Me chamar de maluco, claro que eles iam. Mas fui.
— Qual é o problema, amigo? — perguntou o escrivão.
Eu olhei meus sapatos, senti o rosto vermelho. Precisava falar.
— Vai chover...
Me olharam como se eu viesse de outro planeta.
— Gatos, ouviram bem? Gatos!
O escrivão chamou dois soldados, que me pegaram pelos braços e me levaram não para uma cela, mas para um quarto reservado. Um deles me perguntou se eu tinha bebido ou usado drogas.
— Não — respondi.
Bateram a porta na minha cara e ouvi os seus sorrisos quando se afastaram. No escuro eu ouvi os primeiros trovões.

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