quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Longe de casa - Graça Filadelfo

A mudança de um sobrinho e afilhado para São Paulo onde foi trabalhar, por opção, me leva ao passado. Sem alternativa de continuar os estudos na cidade onde nasci - e vivi até a adolescência -, deixei a família para me aventurar na cidade grande, Salvador, onde estive poucas vezes antes.


Hoje a internet e o celular encurtam a distância entre pessoas queridas. Quando saí de Itapetinga para fazer o pré-vestibular em Salvador, a história era outra. Nem telefone fixo a gente tinha em casa. Só existia a opção da carta. Escrevia e passava ao Correio a tarefa de enviar e trazer as notícias. E como demorava, dez, 15 dias...

Na capital, tudo novidade. Até o transporte coletivo significava um desafio: aguardar no ponto, disputar espaço no acesso e ficar parecendo sardinha prensada no interior do ônibus. Nesses momentos, cresciam as lembranças da pequena cidade, onde bastava disposição para ir à escola, ao cinema, ao clube, à biblioteca, ao passeio na praça. Tudo andando, sem queixas.

Com 19 anos, outra dificuldade foi morar em pensionato e gerenciar a vida. Não era fácil matricular em cursinho, lavar roupa, passar ferro, fazer inscrição no vestibular, administrar o dinheiro curto para a despesa do mês. Mesmo assim, nada de desistir. A prioridade era estudar, estudar muito, para não fazer feio na hora de enfrentar a concorrência e, finalmente, ingressar na Ufba.

Quando o pensionato enchia a paciência, a gente reunia um grupo de estudantes, alugava um "ap" e formava uma república da "Luluzinha". Aí, sobrava liberdade, mas faltavam entendimento, organização, respeito ao direito do outro. Recordo-me de Rose que acendia a luz do quarto mesmo se alguém já estivesse dormindo. Agora, se ela pegasse no sono e uma amiga fizesse isso, reclamava. E como!

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